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ANTROPOLOGIA
Caçador congelado há 5.000 anos fez refeições de carne de cabra, cervo e cereais antes de ser morto por flecha
DNA revela a dieta do "Homem do Gelo"
DA REDAÇÃO
Ötzi, como foi apelidado o homem de 5.000 anos mumificado
no gelo dos Alpes, comeu cereais
e carne de caça em sua última refeição, de acordo com uma pesquisa publicada hoje por cientistas italianos. O estudo também
diz que Ötzi pode ter sido assassinado por caçadores rivais.
Segundo o grupo da Universidade de Camerino (sul da Itália), a
penúltima refeição do "Homem
do Gelo" incluiu grãos, vegetais e
carne de íbex (Capra ibex), uma
cabra selvagem européia.
O estudo pinta um quadro vívido dos últimos dias do viajante e
pode ajudar a esclarecer sua identidade e as causas de sua morte,
escreveu a equipe, liderada por
Franco Rollo, na edição de hoje da
revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" ou
"PNAS" (www.pnas.org).
Rollo e seus colegas analisaram o conteúdo dos intestinos delgado e grosso de Ötzi, achando pequenos pedaços de músculo de
um cervo (Cervus elaphus) e resíduos de cereais. Eles também encontraram pólen, o que sugere
que o homem passou algum tempo numa floresta antes de morrer.
Ötzi foi encontrado nos Alpes
italianos em 1991. A comunidade
científica ficou maravilhada com
o fato de ele ter permanecido congelado, praticamente intacto, por
mais de 5.000 anos.
Ele usava roupas feitas de couro
e fibras vegetais e carregava um
machado de cobre, arco e flechas.
Logo começou a especulação sobre quem era Ötzi e por que havia
morrido ali, mas era difícil investigar isso sem danificar seu corpo.
Mais tarde, uma ponta de flecha
foi achada em seu ombro esquerdo, sugerindo que ele não havia
simplesmente morrido de frio enquanto subia as montanhas.
Rollo e seus colegas aproveitaram o descongelamento do corpo
em setembro de 2000 para retirar
amostras dos intestinos de Ötzi e
fazer a análise do DNA nos restos.
"De acordo com nossa análise, a
última jornada desse guerreiro/
caçador passou por uma floresta
de coníferas [pinheiros], onde comeu pela primeira vez, e terminou com sua morte numa bacia rochosa a 3.200 metros acima do nível do mar, antes da qual ele fez
sua segunda refeição."
Antes da publicação, a pesquisa foi avaliada pelo geneticista Francisco Mauro Salzano, da UFRGS (Universidade Federal do Rio
Grande do Sul), membro da Academia Nacional de Ciências dos
EUA, que publica a "PNAS". "É
um bom exemplo da interação
entre os estudos genéticos e a paleoantropologia, para revelar coisas desconhecidas sobre o modo
de vida dos nossos ancestrais."
Para os cientistas, as evidências
sugerem que Ötzi era um caçador.
Mais que isso: a posse do machado e o fato de que aparentemente
toda a carne que ele comia era de
grandes animais de caça pode sugerir que ele fosse um indivíduo
de prestígio em sua comunidade.
Por viver em uma região relativamente isolada, o acesso a artefatos
de metal como o machado seria
restrito, nessa época, a indivíduos
de status elevado.
O grupo também especulou sobre sua morte. "Caçadores da Idade da Pedra costumavam mirar
suas flechas no ombro esquerdo
de cervos e javalis, porque isso
lhes dava a chance de matar a vítima com a primeira flecha".
"Já que a flecha que matou Ötzi
realmente atingiu seu ombro esquerdo, nos parece muito mais
razoável imaginar que ele foi vítima de alguma rivalidade entre os
caçadores de grandes animais da
região, ao invés de ter sido morto
em algum tipo desconhecido de
ritual", afirma a equipe.
Com agências internacionais
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