São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2010

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Máquina estatal leva muito tempo para surgir, diz estudo

Sociedades que tentam abandonar o estágio tribal em pouco tempo enfrentam dificuldades

Estudo envolveu 84 sociedades e 5.200 anos de história; objetivo agora é elevar o número de povos estudados

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Um "laboratório" espalhado por milhares de quilômetros de oceano, com 5.200 anos de história e habitado por 84 diferentes sociedades falando centenas de línguas, revelou que a evolução política humana acontece em pequenos passos.
Grupos sem líderes passam a ter um chefe, podem virar tribos, que evoluem a cacicados e, eventualmente, a Estados -até atingirem a monstruosa burocracia do Estado contemporâneo.
Em geral, dificuldades de adaptação minam o esforço de sociedades que tentam deixar rapidamente os estágios iniciais para criar uma máquina estatal.
Essa conclusão foi baseada no estudo das relações entre as línguas faladas na região do oceano Pacífico conhecida como Austronésia, que vai desde Taiwan até a ilha da Páscoa e ao largo da América do Sul, englobando lugares como Indonésia, Nova Guiné e Nova Zelândia.
O estudo, publicado na revista científica "Nature", é chefiado pelo pesquisador Thomas Currie, da Universidade de Tóquio e do University College, de Londres.
Currie e sua equipe foram atrás de dados rigorosos que pudessem dar uma resposta e os apresentaram do mesmo modo como fazem os biólogos evolucionários quando criam suas "árvores de família": mostrando ancestrais e relações de parentesco.
Essa árvore "filogenética" foi construída combinando dados linguísticos -listas de vocabulários das línguas da região-, a organização política recente dessas sociedades e a reconstrução dos "galhos" ancestrais e caminhos da organização política.
"Minha primeira reação ao trabalho de Currie foi de surpresa: por que não usamos esse método antes, pois é tão obviamente superior?", escreveu o pesquisador da Universidade da Califórnia Jared Diamond, autor de livros que debatem a evolução política, como "Armas, Germes e Aço" (Editora Record, 2001).
Para ele, o mesmo método poderia ser usado em outro "laboratório" que inclui muitas línguas e diferentes tipos de organização política, as sociedades da África que falam as línguas Níger-Congo.


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