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Máquina estatal leva muito tempo para surgir, diz estudo
Sociedades que tentam abandonar o estágio tribal em pouco tempo enfrentam dificuldades
Estudo envolveu 84 sociedades e 5.200 anos de história; objetivo agora é elevar o número de povos estudados
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
Um "laboratório" espalhado por milhares de quilômetros de oceano, com 5.200
anos de história e habitado
por 84 diferentes sociedades
falando centenas de línguas,
revelou que a evolução política humana acontece em pequenos passos.
Grupos sem líderes passam a ter um chefe, podem
virar tribos, que evoluem a
cacicados e, eventualmente,
a Estados -até atingirem a
monstruosa burocracia do
Estado contemporâneo.
Em geral, dificuldades de
adaptação minam o esforço
de sociedades que tentam
deixar rapidamente os estágios iniciais para criar uma
máquina estatal.
Essa conclusão foi baseada no estudo das relações entre as línguas faladas na região do oceano Pacífico conhecida como Austronésia,
que vai desde Taiwan até a
ilha da Páscoa e ao largo da
América do Sul, englobando
lugares como Indonésia, Nova Guiné e Nova Zelândia.
O estudo, publicado na revista científica "Nature", é
chefiado pelo pesquisador
Thomas Currie, da Universidade de Tóquio e do University College, de Londres.
Currie e sua equipe foram
atrás de dados rigorosos que
pudessem dar uma resposta
e os apresentaram do mesmo
modo como fazem os biólogos evolucionários quando
criam suas "árvores de família": mostrando ancestrais e
relações de parentesco.
Essa árvore "filogenética"
foi construída combinando
dados linguísticos -listas de
vocabulários das línguas da
região-, a organização política recente dessas sociedades e a reconstrução dos "galhos" ancestrais e caminhos
da organização política.
"Minha primeira reação ao
trabalho de Currie foi de surpresa: por que não usamos
esse método antes, pois é tão
obviamente superior?", escreveu o pesquisador da Universidade da Califórnia Jared
Diamond, autor de livros que
debatem a evolução política,
como "Armas, Germes e Aço"
(Editora Record, 2001).
Para ele, o mesmo método
poderia ser usado em outro
"laboratório" que inclui muitas línguas e diferentes tipos
de organização política, as
sociedades da África que falam as línguas Níger-Congo.
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