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Cromossomo sexual de mosca ganha novos genes
Material genético do cromossomo Y aumenta de tamanho em drosófilas
A taxa de ganho de novos genes nesses cromossomos masculinos é 11 vezes maior do que a perda, de acordo com pesquisa na "Nature"
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Uma mosca-da-fruta, ou drosófila, inseto que ganha novos genes em seu cromossomo sexual
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Pequeno, mas bem dotado.
Um estudo comparando o material genético do cromossomo
sexual masculino em moscas-da-fruta drosófila revelou que
ele tem misteriosamente ganho novos genes e aumentado
de tamanho, ao contrário do
que acontece com seu equivalente no ser humano.
Igualmente surpreendente, a
taxa de ganho de novos genes
nesses cromossomos é 11 vezes
maior do que a perda.
Conhecido como cromossomo Y, sua presença define o sexo masculino em muitos animais, incluindo os seres humanos. Nesse sistema, as fêmeas
têm dois cromossomos sexuais
X, e os machos têm o par XY.
Outros animais apresentam
métodos diferentes de definição de sexo. Por exemplo, entre
vários répteis é a diferença de
temperatura durante a incubação do ovo que determina o sexo do animal.
Os genes do Y das moscas
drosófilas são poucos, mas são
bons. Suas funções estão muito
ligadas à reprodução. Três deles fazem a cauda do espermatozóide se mover -sem o gene,
a célula sexual masculina não
se move e o indivíduo é estéril.
O novo estudo surgiu do seqüenciamento do genoma (a
compilação da ordem das bases
químicas do material genético,
o DNA) de 12 espécies de moscas drosófilas, completado no
ano passado.
Antonio Bernardo de Carvalho, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, e seu aluno
de doutorado Leonardo B. Koerich, compararam os genes do
cromossomo Y dessas espécies.
O artigo será publicado na revista científica "Nature", mas já
está disponível on-line a partir
de hoje aos assinantes. Outro
co-autor é um dos líderes do
consórcio do seqüenciamento
de 2007, Andrew Clark, da Universidade Cornell, EUA.
"Em mamíferos está bem demonstrado que os cromossomos X e Y surgiram de um cromossomo comum", diz Carvalho. Mas são estruturas bem diferentes. "Enquanto o X humano tem mais de mil genes, o Y
tem apenas 27. O Y de mamíferos é uma versão empobrecida
do X, e acreditava-se que o Y de
drosófila havia evoluído da
mesma maneira", afirma.
Seqüenciamentos
O mistério da origem diferenciada do Y nas mosquinhas
começou em 2000, com o primeiro seqüenciamento do genoma de uma espécie, a Drosophila melanogaster.
Foi a primeira surpresa: foram encontrados 12 genes no
Y, mas nenhum deles compartilhado com o X. Por trás disso
está o fenômeno da duplicação
gênica. "Todos os genes que encontramos no Y de Drosophila
melanogaster são duplicações
de genes de outros cromossomos. É algo bem comum nos
genomas, mas não se sabia que
era esta a origem dos genes do
cromossomo Y de drosófila",
afirma Carvalho.
Nova surpresa veio em 2005,
com o seqüenciamento de outra espécie, Drosophila pseudoobscura. Foram achados os
mesmos 12 genes -só que em
outros cromossomos. O cromossomo Y original havia sido
substituído por um pedaço de
material genético de origem até
hoje desconhecida.
Com o seqüenciamento de
mais dez espécies em 2007 foi
possível comparar a evolução
do cromossomo sexual. Antes,
Koerich e Carvalho tiveram de
completar falhas do seqüenciamento, pois o Y tem muito
DNA repetitivo, o que torna difícil montar as seqüências.
E mais surpresas vieram.
Apenas 3 dos 12 genes achados
na D. melanogaster estão presentes nos Y das 12 espécies, e a
maioria deles (sete) têm origem mais recente -63 milhões
de anos, comparado com os
260 milhões de anos de outros
genes comuns aos insetos da
ordem dos dípteros (como
moscas e mosquitos).
"Nós estamos estudando
agora o conteúdo de genes do Y
de cerca de 300 espécies de
drosófilas para tentar descobrir qual a origem do cromossomo Y das moscas-da-fruta",
afirma o pesquisador.
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