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Grupo faz o primeiro clone humano com célula adulta
Empresa californiana não conseguiu, porém, obter células-tronco para pesquisa
Autenticidade de um dos cinco embriões criados foi atestada por instituto de pesquisa independente dos autores do experimento
"Stem Cells"
![](../images/d1801200801.gif) |
Óvulo recebe núcleo novo e se divide para formar embrião |
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de cientistas dos
EUA anunciou ontem ter conseguido obter o primeiro embrião clonado a partir de uma
célula humana adulta. Em um
artigo científico publicado na
revista "Stem Cell", cientistas
da empresa de biotecnologia
Stemagen, de La Jolla (Califórnia), descreveram como foram
criados cinco clones, um deles
com autenticidade já atestada
por um centro de pesquisa independente da empresa.
Embriões humanos clonados
já haviam sido obtidos por
meio estimulação de óvulos ou
com o uso de células embrionárias, mas a clonagem a partir de
uma célula adulta abre caminho para aquilo que os pesquisadores mais almejam: obter linhagens de células-tronco de
grande potencial terapêutico e
para uso em pesquisa.
As células-tronco embrionárias humanas são consideradas
uma grande promessa da medicina porque são pluripotentes:
têm a capacidade de se diferenciar em qualquer tecido do organismo. Produzir e "domar"
essas células poderia, no futuro, levar ao tratamento de
doenças hoje incuráveis, como
o mal de Parkinson, o diabetes
e lesões de medula. Células-tronco produzidas a partir de
um clone humano poderiam levar a tratamentos "sob medida"
para o doente, sem risco de rejeição -já que seriam feitas
com o material genético dele.
Este passo crucial, porém,
ainda não foi dado pelos cientistas da Stemagen, que é ligada
a uma clínica de fertilidade.
De qualquer forma, o estudo
foi visto por alguns cientistas
como sinal de que o campo de
pesquisa está finalmente conseguindo obter resultados e se
recuperar do baque que sofreu
em 2005. Naquele ano, o cientista coreano Hwang Woo-Suk
anunciou a obtenção de células-tronco a partir de embriões
clonados, mas o experimento
se revelou uma fraude depois.
O novo trabalho foi apresentado como um desabafo. "Esperamos que ele seja uma espécie
de virada para muitos outros
estudos", diz Andrew French,
cientista que liderou o experimento na Califórnia. O grupo
construiu os clones a partir de
células de pele de dois cientistas da equipe e de óvulos doados voluntariamente por mulheres de casais que passavam
por tratamento de fertilidade.
O método adotado por
French para produzir os clones
foi basicamente o mesmo que
gerou a ovelha clonada Dolly,
em 1996, mas teve de ser aprimorado, já que em humanos e
outros primatas existem complicações técnicas adicionais.
Sem células-tronco
Apesar de o experimento da
Stemagen ter sido recebido
com impacto, alguns cientistas
questionaram se ele deve ser
tratado como um avanço significativo na área, já que os americanos da Stemagen não conseguiram obter nenhuma linhagem de células tronco.
"Acho difícil determinar o
que foi substancialmente novo", disse Douglas Melton, do
Instituto de Células-Tronco de
Harvard. Para ele, o próximo
grande avanço no campo teria
sido mesmo a criação de uma linhagem de células embrionárias a partir de um clone. "Isso
ainda está por ser feito (...) mas
é só uma questão de tempo antes que algum grupo consiga."
Ian Wilmut, criador da ovelha Dolly, se disse otimista. "Espero que os autores tenham a
oportunidade de continuar seu
trabalho e derivar as linhagens
de células-tronco", afirmou.
Segundo a bióloga Lygia da
Veiga Pereira, da USP, seria natural esperar que os cientistas
conseguissem obter as linhagens de células tronco antes de
publicar um trabalho. "Imagino que eles tenham tentado extrair as células e não tenham
conseguido", afirmou. Pereira,
porém, não questionou a autenticidade da clonagem. "Eles
foram muito cuidadosos com
os embriões", disse. "Para um
deles, confirmaram que tinha
de fato genoma idêntico à célula doadora, tanto no DNA nuclear [do núcleo da célula]
quanto mitocondrial [da mitocôndria, unidade que processa
energia na célula]."
Avaliação "ultracautelosa"
Alguns pesquisadores que estão na corrida pela obtenção
das linhagens de células-tronco
de clones receberam a notícia
com ceticismo. "Precisamos
ser ultracautelosos depois do
escândalo de Hwang e não cometermos os mesmos erros de
novo", disse Robert Lanza, da
empresa Advanced Cell Technologies. "Eu realmente gostaria de acreditar nisso, mas ainda não estou convencido."
Alguns pesquisadores do
campo abriram mão de trabalhar com células-tronco para
pesquisar as chamadas iPS (células pluripotentes induzidas).
São células com potencial terapêutico tão promissor quanto o
das embrionárias, mas que podem ser feitas sem clonagem.
"Mas, neste estágio, não consideramos células iPS como
substitutas da transferência
nuclear", escreveu Miodrag
Stojkovic, cientista do Centro
de Pesquisa Príncipe Felipe, de
Valência (Espanha), em comentário na "Stem Cell". "O
uso nelas de genes e retrovírus
conhecidos por causar câncer
(...) torna questionável qualquer aplicação possível em medicina regenerativa."
Segundo Mayana Zatz, geneticista da USP, qualquer uso de
tecido adulto para criar embriões ainda deve enfrentar dificuldades técnicas. "Ele pode
ativar [no embrião] mutações
que estavam silenciadas [na célula adulta]", explica. "Dependendo da mutação, ela pode
tornar a célula inviável."
Com Reuters e Associated Press
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