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ARMAS BIOLÓGICAS
Diretor de laboratório de alta segurança francês diz que não há plano para conter impacto de ataque
Falta coordenação contra o bioterrorismo
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se Saddam Hussein ainda tiver
as perigosas armas biológicas que
americanos e britânicos dizem
que ele tem e resolver usá-las num
ataque, os laboratórios de segurança máxima distribuídos pelo
mundo -que deveriam trabalhar na análise de amostras, na
execução de diagnósticos e na
corrida por formas de proteger a
população- não estarão coordenados o bastante para responder
rapidamente à emergência.
Quem afirma isso é Vincent
Deubel, diretor científico do Laboratório de Alta Segurança Jean
Mérieux, em Lyon, França. Ele diz
que, desde os atentados contra o
World Trade Center em Nova
York, em 2001, cerca de dez laboratórios de segurança máxima
existentes no mundo têm procurado estreitar seus laços.
"Isso foi uma das coisas boas do
11 de setembro", diz. "O episódio
estimulou as comunidades dos laboratórios a buscarem colaborações, a trabalharem em cooperação, para responder a uma emergência o mais rápido possível."
Apesar disso, ele diz que ainda
não é o suficiente. "Precisamos de
mais reconhecimento por parte
das instituições políticas, mais investimento. Há um interesse em
estabelecer isso [coordenação entre os laboratórios do mundo todo" -estamos tentando justamente ir nessa direção. Mas hoje
ainda não temos nenhum plano,
caso surja uma necessidade."
Deubel esteve no Brasil na semana passada, para participar de
um encontro no Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita
Albert Einstein, em São Paulo. Na
ocasião foram lançadas as bases
para um plano de cooperação entre países da América do Sul e
França para desenvolver novas
formas de diagnosticar e tratar
dengue hemorrágica, versão fatal
da doença causada pelo vírus
transmitido pelo Aedes aegypti.
O Jean Mérieux, laboratório que
o virologista dirige, é o único de
segurança máxima da França e
um dos poucos existentes no
mundo. Classificado como P4, é
um dos únicos lugares onde se faz
pesquisa com os chamados "superbugs" -os vírus mais mortais
que existem, como o ebola.
Todos os cuidados são necessários para minimizar riscos de contaminação acidental. Mas, se um
cientista gosta de emoções fortes,
nada o impediria de trabalhar em
piores condições. "Você pode fazer em qualquer bancada, em
qualquer laboratório. Temos trabalhado com esses vírus por muitos, muitos anos na bancada."
Para fazer armas biológicas de
destruição de massa, entretanto,
alguém precisaria de mais tecnologia. "Se você quiser usar quantidades muito grandes do vírus, eu
duvido que isso pudesse ser feito
sem um alto nível de segurança."
Ele se esquiva quando se passa à
próxima pergunta: Saddam Hussein teria essa capacidade? "Não
posso responder sobre isso. Nunca estive no Iraque, não conheço o
nível de tecnologia que eles têm."
Seja qual for o perigo, os laboratórios P4 estão trabalhando.
"Tentamos desenvolver técnicas
que poderiam ser usadas em hospitais, para que, no caso de um
ataque, possamos reagir rapidamente. Não poderíamos lidar sozinhos com todas as amostras."
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