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São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2003

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ARMAS BIOLÓGICAS

Diretor de laboratório de alta segurança francês diz que não há plano para conter impacto de ataque

Falta coordenação contra o bioterrorismo

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se Saddam Hussein ainda tiver as perigosas armas biológicas que americanos e britânicos dizem que ele tem e resolver usá-las num ataque, os laboratórios de segurança máxima distribuídos pelo mundo -que deveriam trabalhar na análise de amostras, na execução de diagnósticos e na corrida por formas de proteger a população- não estarão coordenados o bastante para responder rapidamente à emergência.
Quem afirma isso é Vincent Deubel, diretor científico do Laboratório de Alta Segurança Jean Mérieux, em Lyon, França. Ele diz que, desde os atentados contra o World Trade Center em Nova York, em 2001, cerca de dez laboratórios de segurança máxima existentes no mundo têm procurado estreitar seus laços.
"Isso foi uma das coisas boas do 11 de setembro", diz. "O episódio estimulou as comunidades dos laboratórios a buscarem colaborações, a trabalharem em cooperação, para responder a uma emergência o mais rápido possível."
Apesar disso, ele diz que ainda não é o suficiente. "Precisamos de mais reconhecimento por parte das instituições políticas, mais investimento. Há um interesse em estabelecer isso [coordenação entre os laboratórios do mundo todo" -estamos tentando justamente ir nessa direção. Mas hoje ainda não temos nenhum plano, caso surja uma necessidade."
Deubel esteve no Brasil na semana passada, para participar de um encontro no Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Na ocasião foram lançadas as bases para um plano de cooperação entre países da América do Sul e França para desenvolver novas formas de diagnosticar e tratar dengue hemorrágica, versão fatal da doença causada pelo vírus transmitido pelo Aedes aegypti.
O Jean Mérieux, laboratório que o virologista dirige, é o único de segurança máxima da França e um dos poucos existentes no mundo. Classificado como P4, é um dos únicos lugares onde se faz pesquisa com os chamados "superbugs" -os vírus mais mortais que existem, como o ebola.
Todos os cuidados são necessários para minimizar riscos de contaminação acidental. Mas, se um cientista gosta de emoções fortes, nada o impediria de trabalhar em piores condições. "Você pode fazer em qualquer bancada, em qualquer laboratório. Temos trabalhado com esses vírus por muitos, muitos anos na bancada."
Para fazer armas biológicas de destruição de massa, entretanto, alguém precisaria de mais tecnologia. "Se você quiser usar quantidades muito grandes do vírus, eu duvido que isso pudesse ser feito sem um alto nível de segurança."
Ele se esquiva quando se passa à próxima pergunta: Saddam Hussein teria essa capacidade? "Não posso responder sobre isso. Nunca estive no Iraque, não conheço o nível de tecnologia que eles têm."
Seja qual for o perigo, os laboratórios P4 estão trabalhando. "Tentamos desenvolver técnicas que poderiam ser usadas em hospitais, para que, no caso de um ataque, possamos reagir rapidamente. Não poderíamos lidar sozinhos com todas as amostras."


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