São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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TECNOLOGIA

Composto criado por cientistas da Universidade de Brasília pode ser nova arma contra desastres ambientais

Nanoímãs contêm derrame de petróleo

Ernesto Carriço/Agência O Dia
Bóias tentam conter óleo em Angra dos Reis na última terça


REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma pesquisa da UnB (Universidade de Brasília) está desenvolvendo uma nova arma contra os derramamentos de petróleo no mar, responsáveis por desastres ecológicos como o que aconteceu na última segunda-feira em Angra dos Reis, Rio de Janeiro. O método usa um composto magnético que se mistura ao petróleo e facilita sua retirada do mar.
Além de contribuir para a limpeza de ecossistemas marinhos, o composto promete ser agradável também para o bolso: é que será possível separá-lo posteriormente do petróleo, reaproveitando ambos os materiais e reduzindo os custos da operação.
A técnica, cujo desenvolvimento está sendo coordenado por Paulo César de Morais, do Instituto de Física da UnB, aproveita um dos conceitos mais promissores da ciência dos últimos tempos, a nanotecnologia. O nome de origem grega se refere à minúscula escala que ela abrange, da ordem de um milionésimo de milímetro.
As vantagens de usar esse tipo de processo na interação entre diversos materiais são inúmeras. Morais, contudo, explica que uma delas foi decisiva para escolher a escala nanométrica. "Devido ao próprio movimento de suas moléculas, os objetos nessa escala não decantam [não afundam na água"", diz o pesquisador da UnB.

Contato
Além disso, a dimensão nanométrica tira proveito de outra regrinha básica da química e da física. Essa regra estabelece que, quanto maior a superfície de contato entre dois corpos, mais facilmente eles interagem. Uma multidão de partículas minúsculas cria uma superfície de contato gigantesca, o que melhora a interação entre o composto e o petróleo.
No caso da pesquisa da UnB, o composto antiderramamento é formado por microbolas de um polímero (tipo de molécula muito longa, formada por uma série de unidades menores e idênticas, baseadas em carbono) que recebem uma série de "implantes" de nanopartículas magnéticas, feitas com um óxido de ferro. O polímero, semelhante ao PVC, tem a vantagem de ser inerte, ou seja, não reage quimicamente com outras substâncias e, por isso, não é poluente, diz Morais.
O composto é misturado ao petróleo que fica em suspensão na água. "É um composto hidrofóbico, ou seja, que tem uma tendência a se separar da água e se misturar ao óleo", explica Morais.
Como o material, além disso, não afunda, a mistura fica à disposição dos pesquisadores brasilienses para a segunda fase do procedimento. Entra em ação um filtro magnético especial, também desenvolvido pelo projeto, que usa os nanoímãs espalhados pelo líquido, que também se tornou magnético, para retirá-lo.

Limpeza
Dessa forma, é possível separar a água, que pode até voltar para o mar, dos nanoímãs e do petróleo, que ficaram juntos. O nanocomposto, que não é dos mais baratos, pode ser reaproveitado para novas limpezas, diz Morais.
O pesquisador conta que o nanocomposto teve seu desenvolvimento praticamente concluído e deverá ser patenteado. O grupo da UnB agora dedicará seus esforços a aperfeiçoar o filtro magnético. De acordo com Morais, o trabalho pode estar concluído em meados do ano que vem.



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