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Nova técnica de datação deixa faraó mais velho
Cientistas fizeram primeira cronologia do Egito antigo, usando restos de plantas achados em casas e templos
Até hoje, datas eram
relativas, seguindo a
sucessão de reinados
do país; dados valem
para o Mediterrâneo
REINALDO JOSÉ LOPES
DE SÃO PAULO
Tutancâmon, o rei-menino
do antigo Egito, acaba de ficar uns 15 anos mais velho. Já
Djoser, primeiro faraó a mandar erguer uma pirâmide, ficou 50 anos mais idoso do
que se pensava. O envelhecedor de faraós é o carbono-14.
Foi essa forma instável do
elemento químico carbono
que permitiu a montagem da
primeira cronologia direta do
Egito antigo, apresentada na
edição de hoje da revista especializada "Science".
Até agora, os arqueólogos
só tinham cronologias relativas -sabiam mais ou menos
a ordem e a duração de cada
reinado, mas precisavam de
estimativas, algumas delas
baseadas em acontecimentos astronômicos que aparecem em antigos papiros, para
conseguir colocar datas na
história do Egito faraônico.
"ENGANADOR"
"As cronologias históricas
tendem a ser citadas como se
o ano real fosse conhecido.
Isso é enganador. Mesmo no
Novo Império [período de
apogeu do poderio egípcio,
que começa por volta de 1560
a.C., segundo o novo estudo]
há incerteza da ordem de
uma ou duas décadas", explicou à Folha o líder do estudo na "Science", Christopher Ramsey, da Universidade de Oxford (Reino Unido).
O carbono-14 se incorpora
na matéria orgânica conforme as plantas crescem, chegando à sua quantidade máxima quando o vegetal morre. Daí por diante, o elemento
vai sumindo a uma taxa
constante, que permite estimar quanto tempo se passou
desde a morte da planta.
O que Ramsey e companhia fizeram foi datar 188 restos vegetais de locais construídos em vários reinados.
Eram coisas como sementes
e caules, que não são armazenados por muito tempo.
"Isso é interessante porque madeira, por exemplo,
pode ser utilizada muito tempo depois de extraída, o que
confundiria as datas", diz o
egiptólogo Cássio Duarte,
com doutorado em arqueologia pela USP, que avaliou o
estudo a pedido da Folha.
Os dados indicam, por
exemplo, que Tutancâmon
começou a reinar em 1349
a.C., e Djoser, em 2676 a.C.
As margens de erro da técnica são comparáveis às da
cronologia tradicional. Como
boa parte do mundo antigo
depende da cronologia egípcia para ser datado, "os resultados são importantes, em
especial quando você vê interações com povos que não tinham escrita", afirma Duarte. Ele, porém, diz que a cronologia tradicional continuará sendo de grande valia.
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