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TECNOLOGIA
Aparelho criado por mexicano já converte sinais de surdo americano para inglês; inventor se desinteressa por uso militar
Luva tradutora vai aprender a "falar" turco
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O primeiro sistema capaz de
traduzir línguas de sinais em palavras faladas ou escritas já está virando poliglota e pode ser adaptado até para o turco. Mas o criador
da luva eletrônica AcceleGlove diz
que não quer ter nada a ver com o
possível uso militar de aparelhos
similares pela Marinha dos EUA
(em comunicação silenciosa).
"Não gostaria de estar envolvido numa coisa bélica, sou totalmente pacifista", disse à Folha o
engenheiro de computação mexicano José Hernández-Rebollar,
da Universidade George Washington (EUA). "Sei de outras
pessoas trabalhando com coisas
parecidas, mas não estou ligado
de forma alguma a tais projetos."
Hernández-Rebollar acaba de
concluir seu doutorado, cujo tema era o projeto da luva. "A nossa
primeira aplicação não era a ASL
[sigla em inglês de "língua americana de sinais"], mas a capacidade de traduzir gestos em comandos dentro de ambientes de computação gráfica ou realidade virtual", conta o pesquisador.
"Mas a língua de sinais tinha
uma série de vantagens do ponto
de vista acadêmico, porque já
contava com uma correspondência definida entre os gestos e as
palavras. Além disso, podíamos
entrar em contato com as pessoas
que a usam normalmente e ver o
que funcionava e o que podia ser
melhorado", afirma.
Foi com a ajuda de 17 pessoas
que conheciam a ASL (desde
principiantes a usuários fluentes)
que o engenheiro fez o teste final
do projeto. Os sensores espalhados pela luva registram dados sobre a movimentação dos dedos
no espaço e traduzem essa informação em palavras escritas numa
tela ou "faladas" por um sintetizador, com um intervalo de 12 milésimos de segundo entre gesto e
palavra (veja quadro à esq.).
"Funcionou com exatidão de
95%", orgulha-se Hernández-Rebollar. O sistema permite tanto o
uso do "alfabeto dos dedos", em
que o usuário vai formando palavras letra por letra, quanto o da
própria ASL, cujos gestos exprimem conceitos completos. O repertório, com 200 palavras, ainda
é pequeno, mas o inventor diz que
não seria complicado ampliá-lo.
O mexicano também se mostra
otimista quanto à possibilidade
de ampliar o repertório de línguas
da AcceleGlove: "Por sorte, existem princípios comuns, como o
componente espacial e o movimento das mãos junto ao corpo".
Hernández-Rebollar diz já estar
trabalhando numa versão espanhola da luva e sugere que não seria muito complicado partir dela
para um modelo em português.
Antes disso, porém, por incrível
que pareça, pode estar a caminho
a versão turca: "Um amigo da faculdade era turco e hoje está morando em Istambul. Ele me escreveu quando soube do meu trabalho e logo se interessou pela possibilidade de fazer a mesma coisa
em turco", conta o inventor.
Dois grandes desafios ainda
aguardam o sistema. Um deles é
como decifrar alguns movimentos especialmente complicados:
"No sinal para porcentagem em
ASL, por exemplo, a pessoa desenha aqueles dois zeros e a barrinha no ar, o que atrapalha um
pouco", diz Hernández-Rebollar.
O próximo deve ser enfrentado
a partir de 2005, quando ficar
pronta uma versão que possa ser
usada nas duas mãos, dando mais
potencial expressivo ao sistema.
"O conjunto de sensores na segunda mão é a cópia exata da primeira", diz o pesquisador. "O
principal problema técnico é a
orientação dos gestos entre uma
mão e outra."
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