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São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2003

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TECNOLOGIA

Aparelho criado por mexicano já converte sinais de surdo americano para inglês; inventor se desinteressa por uso militar

Luva tradutora vai aprender a "falar" turco

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O primeiro sistema capaz de traduzir línguas de sinais em palavras faladas ou escritas já está virando poliglota e pode ser adaptado até para o turco. Mas o criador da luva eletrônica AcceleGlove diz que não quer ter nada a ver com o possível uso militar de aparelhos similares pela Marinha dos EUA (em comunicação silenciosa).
"Não gostaria de estar envolvido numa coisa bélica, sou totalmente pacifista", disse à Folha o engenheiro de computação mexicano José Hernández-Rebollar, da Universidade George Washington (EUA). "Sei de outras pessoas trabalhando com coisas parecidas, mas não estou ligado de forma alguma a tais projetos."
Hernández-Rebollar acaba de concluir seu doutorado, cujo tema era o projeto da luva. "A nossa primeira aplicação não era a ASL [sigla em inglês de "língua americana de sinais"], mas a capacidade de traduzir gestos em comandos dentro de ambientes de computação gráfica ou realidade virtual", conta o pesquisador.
"Mas a língua de sinais tinha uma série de vantagens do ponto de vista acadêmico, porque já contava com uma correspondência definida entre os gestos e as palavras. Além disso, podíamos entrar em contato com as pessoas que a usam normalmente e ver o que funcionava e o que podia ser melhorado", afirma.
Foi com a ajuda de 17 pessoas que conheciam a ASL (desde principiantes a usuários fluentes) que o engenheiro fez o teste final do projeto. Os sensores espalhados pela luva registram dados sobre a movimentação dos dedos no espaço e traduzem essa informação em palavras escritas numa tela ou "faladas" por um sintetizador, com um intervalo de 12 milésimos de segundo entre gesto e palavra (veja quadro à esq.).
"Funcionou com exatidão de 95%", orgulha-se Hernández-Rebollar. O sistema permite tanto o uso do "alfabeto dos dedos", em que o usuário vai formando palavras letra por letra, quanto o da própria ASL, cujos gestos exprimem conceitos completos. O repertório, com 200 palavras, ainda é pequeno, mas o inventor diz que não seria complicado ampliá-lo.
O mexicano também se mostra otimista quanto à possibilidade de ampliar o repertório de línguas da AcceleGlove: "Por sorte, existem princípios comuns, como o componente espacial e o movimento das mãos junto ao corpo". Hernández-Rebollar diz já estar trabalhando numa versão espanhola da luva e sugere que não seria muito complicado partir dela para um modelo em português.
Antes disso, porém, por incrível que pareça, pode estar a caminho a versão turca: "Um amigo da faculdade era turco e hoje está morando em Istambul. Ele me escreveu quando soube do meu trabalho e logo se interessou pela possibilidade de fazer a mesma coisa em turco", conta o inventor.
Dois grandes desafios ainda aguardam o sistema. Um deles é como decifrar alguns movimentos especialmente complicados: "No sinal para porcentagem em ASL, por exemplo, a pessoa desenha aqueles dois zeros e a barrinha no ar, o que atrapalha um pouco", diz Hernández-Rebollar.
O próximo deve ser enfrentado a partir de 2005, quando ficar pronta uma versão que possa ser usada nas duas mãos, dando mais potencial expressivo ao sistema.
"O conjunto de sensores na segunda mão é a cópia exata da primeira", diz o pesquisador. "O principal problema técnico é a orientação dos gestos entre uma mão e outra."


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