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Cientistas do país querem remunerar voluntários
Para eles, não pagar pela participação em estudos atrasa ciência nacional
Restrições surgiram para evitar que os mais pobres aceitassem participar de estudos ignorando seus riscos
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO
No Brasil, não se pode pagar alguém para matar
monstros em um jogo de
computador e ter sua atividade cerebral observada.
Foi o que Sidarta Ribeiro,
neurocientista da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, descobriu quando,
querendo aumentar o número de participantes do seu experimento, enviou seu projeto de remunerar os voluntários a um comitê de ética.
Cientistas que utilizam humanos em suas pesquisas dizem que proibir a remuneração em dinheiro para atrair
voluntários acaba atravancando a ciência nacional.
A restrição surgiu ao mesmo tempo em que multinacionais farmacêuticas, especialmente a partir dos anos
1990, usavam países do Terceiro Mundo para testar seus
medicamentos (leia à dir.).
Uma diretriz de 1996 do
Conselho Nacional de Saúde
determinou que a participação em pesquisas seria "voluntária, vedada qualquer
forma de remuneração".
A reclamação de cientistas
como Ribeiro, que trabalham
com humanos, é que se foi
longe demais com esse banimento. O ideal, dizem, seria
que os comitês avaliassem a
situação caso a caso.
Quem tem problemas de
saúde facilmente se dispõe a
participar da busca pela cura. Achar gente saudável disposta a perder tempo pela
ciência, porém, é mais difícil.
Pesquisadores reclamam
que, por isso, os grupos que
estudam ficam enviesados.
"Nossos voluntários acabam não sendo muito representativos da população. São
pessoas naturalmente mais
curiosas, mais disponíveis.
Ser for alguém mais pragmático, não se expõe", diz Edson Amaro Junior, neurorradiologista da USP. "Faz diferença ao estudar o cérebro."
ELEIÇÃO
Ele faz uma analogia: "Faz
de conta agora que o cara,
nas pesquisas eleitorais, tivesse de parar quatro horas
para participar." A amostra,
então, deixa de ser representativa -torna-se uma grande
pesquisa entre aposentados
e desempregados, talvez.
Os defensores do veto dizem que, num país em desenvolvimento, oferecer remuneração seria se aproveitar
do desespero alheio. Sem outras grandes opções de renda, os voluntários ignorariam riscos por uns trocados.
Além disso, poderia existir
risco da criação de "voluntários profissionais", algo que
também poderia enviesar as
amostras. Isso, porém, poderia ser evitado por meio de
uma triagem que limite a participação de um mesmo voluntário em vários estudos.
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