São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2010

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ANÁLISE

Debate acaba dando mais voz às emoções do que à razão

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Argumentos racionais contra a remuneração a participantes de pesquisas até existem, mas essa é uma área em que emoções costumam falar mais alto que a razão.
A mera ideia de legalizar um mercado de órgãos humanos já provoca ojeriza mesmo entre liberais de carteirinha. Se um homem regalar sua mulher com um caríssimo jantar na expectativa de uma noite tórrida de amor, estará sendo romântico, mas, se ousar oferecer-lhe dinheiro para o mesmo fim, torna-se um cafajeste.
Nossos cérebros não foram projetados para a economia de mercado. Sistemas de troca que envolvem o dinheiro nada têm de natural: exigem alto grau de abstração e requerem complexos cálculos, inconcebíveis no passado darwiniano em que nossas mentes foram moldadas.
Em diversas esferas, nossas emoções, notadamente aquelas ligadas aos temas da pureza e da justiça, prevalecem e bloqueiam transações financeiras. O filósofo americano Michael Walzer elaborou uma lista das coisas que, hoje nos EUA, o dinheiro não pode comprar. Ela inclui cargos públicos, amor, honrarias e a graça divina.
Foi um pouco nessa esparrela que o CNS (Conselho Nacional de Saúde) caiu ao banir, em 1996, todo tipo de pagamento a participantes de pesquisas. Subjaz aí a noção de que a ciência é mais nobre quando se utiliza só de altruístas. Que pessoas físicas partilhem dessa ideia é esperado; que o CNS, órgão que deveria pautar-se apenas por considerações racionais, faça o mesmo é inquietante.


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