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ANÁLISE
Debate acaba dando mais voz às emoções do que à razão
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
Argumentos racionais
contra a remuneração a participantes de pesquisas até
existem, mas essa é uma área
em que emoções costumam
falar mais alto que a razão.
A mera ideia de legalizar
um mercado de órgãos humanos já provoca ojeriza
mesmo entre liberais de carteirinha. Se um homem regalar sua mulher com um caríssimo jantar na expectativa de
uma noite tórrida de amor,
estará sendo romântico,
mas, se ousar oferecer-lhe dinheiro para o mesmo fim,
torna-se um cafajeste.
Nossos cérebros não foram
projetados para a economia
de mercado. Sistemas de troca que envolvem o dinheiro
nada têm de natural: exigem
alto grau de abstração e requerem complexos cálculos,
inconcebíveis no passado
darwiniano em que nossas
mentes foram moldadas.
Em diversas esferas, nossas emoções, notadamente
aquelas ligadas aos temas da
pureza e da justiça, prevalecem e bloqueiam transações
financeiras. O filósofo americano Michael Walzer elaborou uma lista das coisas que,
hoje nos EUA, o dinheiro não
pode comprar. Ela inclui cargos públicos, amor,
honrarias e a graça divina.
Foi um pouco nessa esparrela que o CNS (Conselho Nacional de Saúde) caiu ao banir, em 1996, todo tipo de pagamento a participantes de
pesquisas. Subjaz aí a noção
de que a ciência é mais nobre
quando se utiliza só de altruístas. Que pessoas físicas
partilhem dessa ideia é esperado; que o CNS, órgão que
deveria pautar-se apenas por
considerações racionais, faça o mesmo é inquietante.
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