São Paulo, Quarta-feira, 19 de Janeiro de 2000


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CIÊNCIA
Supostos menores seres vivos (filamentos) são vistos em arenito
Equipe diz ter descoberto menor forma de vida

WILLIAM J. BROAD
do "The New York Times"

Cientistas australianos podem ter descoberto algo surpreendente nas profundezas do mar: criaturas misteriosas, aparentemente vivas e tão pequenas que chegam ao limite do que é necessário para que exista vida independente.
Seus descobridores, da Universidade de Queensland, afirmam que esses seres são novas formas de micróbios. Céticos, no entanto, vêem a descoberta como uma provável nova desilusão na caçada às menores formas de vida.
Os pesquisadores as chamam de nanobes. O "nano" vem de seu comprimento, de 20 a 150 nanômetros (bilionésimos de metro).
Esses seres são menores que células, que fungos, que as mais diminutas bactérias conhecidas e quase do tamanho de vírus.
Os vírus são considerados parasitas sem vida porque precisam de hospedeiros para se reproduzir. Dessa forma, os nanobes podem representar o tamanho mínimo para a existência de vida.
Se os nanobes forem realmente seres vivos, o achado pode indicar que o planeta tem uma biosfera escondida de micróbios, tão rica quanto a da superfície.
Os pesquisadores descobriram os seres há quatro anos, em arenito obtido em perfurações de petróleo a cerca de 5 km abaixo do solo marinho ao oeste da Austrália. O achado foi divulgado pela primeira vez no final de 1998.

DNA e reprodução
Segundo os pesquisadores, liderados por Philippa Uwins, os filamentos se pareciam com fungos e se reproduziam rapidamente, formando densas colônias.
Análises indicaram também a existência de DNA, a molécula que compõe os genes dos seres vivos. "Nosso trabalho recente traz mais evidências de que os filamentos estão vivos", disse Uwins.
A equipe escreveu dois novos estudos sobre o tema, que indicam também que as colônias possuem carbono, oxigênio e nitrogênio, essenciais à vida.
Pode parecer que o conhecimento preciso sobre o tamanho mínimo para a vida é algo do passado. Mas os menores limites ainda são um mistério e sua elucidação só recentemente se tornou um objetivo científico popular.
Houve um debate sobre o tema, há quatro anos, quando cientistas anunciaram a descoberta de fósseis de micróbios em um meteorito marciano de 4,5 bilhões de anos. De 20 a 200 nanômetros, os fósseis eram menores do que qualquer forma de vida terrestre, e essa diferença ajudou a colocar a descoberta em questão.
Desde então, muitos estudos tentam provar a existência de formas de vida desse porte. Para filtrar as alegações, a Academia Nacional de Ciências, dos EUA, formou um comitê de 18 membros.
Eles indicaram que as menores bactérias conhecidas, com 200 nanômetros, seriam o limite de tamanho, mas indicaram ser possível que micróbios primitivos tivessem até 50 nanômetros.
"Não é possível que uma célula independente tenha menos de 100 nanômetros", disse John Baross, da Universidade de Washington e membro do comitê. Para Norman Pace, da Universidade do Colorado, os nanobes têm a largura de 10 moléculas de DNA. Assim, outros sistemas vitais não caberiam no ser vivo.
Mas, como o próprio Baross diz, os nanobes "podem ser totalmente diferentes dos microorganismos que conhecemos".


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