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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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Detector de ondas gravitacionais pode revelar infância do Universo

DO ENVIADO A DENVER

Um observatório duplo construído nos EUA pode ser a primeira instalação a detectar o eco gravitacional do Big Bang, captando informações geradas apenas uma fração de segundo após o nascimento do Universo.
O sistema, chamado Ligo (sigla em inglês para Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferometria de Laser), já está em operação, e os primeiros resultados científicos serão publicados em março. O objetivo principal é confirmar uma das previsões da Teoria da Relatividade -a existência de ondas gravitacionais.
O simpósio organizado para relatar as novidades do Ligo foi provavelmente o evento mais concorrido na 169ª Reunião Anual da AAAS. Antes mesmo do início das palestras, todas as cadeiras de um dos maiores auditórios do Colorado Convention Center estavam tomadas, anteontem.
Todos queriam saber se o Ligo já tinha feito a primeira detecção das tais ondas gravitacionais. A resposta é um esperançoso "ainda não". "Estamos a uma ordem de grandeza de chegarmos no nível de sensibilidade em que podemos começar a observar a radiação gravitacional", disse Albert Lazzarini, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), uma das instituições envolvidas.
Até 2006, os pesquisadores esperam já ter atingido esse nível e feito as primeiras observações das tais ondas, comprovando mais uma das estranhas previsões da teoria de Albert Einstein.
Ondas gravitacionais, segundo a relatividade, são emitidas quando um corpo com massa está em movimento acelerado pelo espaço. Correndo a partir desse corpo como ondas formadas pela queda de uma pedra num lago, a tal radiação gravitacional vai para todas as direções, causando rápidas oscilações na métrica do espaço.
Em termos mais simples, quando uma onda gravitacional passa por um objeto, ela faz com que ele varie minimamente de tamanho, por uma fração ínfima de tempo.

Revolução astronômica
O objetivo dos pesquisadores é justamente detectar essa variação do espaço pela passagem das ondas. Mas o desafio é inversamente proporcional ao tamanho da oscilação. Para uma estrutura como a do Ligo (dois observatórios iguais, um na Louisiana, sul dos EUA, e outro no Estado de Washington, no noroeste), com 4 km de extensão cada, a variação de tamanho causada pelas ondas gravitacionais é da ordem dos 10-18 m (0,000000000000000001 m).
Um núcleo atômico é cerca de mil vezes maior. A idéia é usar dois feixes de laser perpendiculares (numa estrutura em forma de "L") e medir qualquer descompasso entre eles, causado por uma onda gravitacional.
A eventual detecção de ondas gravitacionais não só vai dar mais um ponto para a teoria de Einstein, mas também pode abrir, como disse David Shoemaker, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), "um novo campo na astronomia".
Os astrônomos têm a esperança de detectar o equivalente gravitacional da radiação cósmica de fundo, o eco do Big Bang que os cientistas hoje usam para estudar o início do Universo, composto pelos primeiros traços de radiação luminosa que surgiram.
A radiação cósmica de fundo é basicamente o limite atual de observação do passado do cosmos. Ela foi gerada uns 100 mil anos após a explosão que gerou o Universo. Mas, se o estudo das ondas gravitacionais for possível, os cientistas poderão analisar informação bem mais antiga. Estima-se que os primeiros traços de radiação gravitacional emitidos após o Big Bang tenham ocorrido apenas 10-24 segundos depois do nascimento do Universo.
E se, depois de todo esse investimento, nada for detectado? "Aí então nós vamos precisar repensar todo o entendimento atual que temos do espaço-tempo", diz Shoemaker. (SN)


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