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Detector de ondas gravitacionais pode revelar infância do Universo
DO ENVIADO A DENVER
Um observatório duplo construído nos EUA pode ser a primeira instalação a detectar o eco
gravitacional do Big Bang, captando informações geradas apenas uma fração de segundo após o
nascimento do Universo.
O sistema, chamado Ligo (sigla
em inglês para Observatório de
Ondas Gravitacionais por Interferometria de Laser), já está em
operação, e os primeiros resultados científicos serão publicados
em março. O objetivo principal é
confirmar uma das previsões da
Teoria da Relatividade -a existência de ondas gravitacionais.
O simpósio organizado para relatar as novidades do Ligo foi provavelmente o evento mais concorrido na 169ª Reunião Anual da
AAAS. Antes mesmo do início
das palestras, todas as cadeiras de
um dos maiores auditórios do
Colorado Convention Center estavam tomadas, anteontem.
Todos queriam saber se o Ligo
já tinha feito a primeira detecção
das tais ondas gravitacionais. A
resposta é um esperançoso "ainda
não". "Estamos a uma ordem de
grandeza de chegarmos no nível
de sensibilidade em que podemos
começar a observar a radiação
gravitacional", disse Albert Lazzarini, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), uma das
instituições envolvidas.
Até 2006, os pesquisadores esperam já ter atingido esse nível e
feito as primeiras observações das
tais ondas, comprovando mais
uma das estranhas previsões da
teoria de Albert Einstein.
Ondas gravitacionais, segundo
a relatividade, são emitidas quando um corpo com massa está em
movimento acelerado pelo espaço. Correndo a partir desse corpo
como ondas formadas pela queda
de uma pedra num lago, a tal radiação gravitacional vai para todas as direções, causando rápidas
oscilações na métrica do espaço.
Em termos mais simples, quando uma onda gravitacional passa
por um objeto, ela faz com que ele
varie minimamente de tamanho,
por uma fração ínfima de tempo.
Revolução astronômica
O objetivo dos pesquisadores é
justamente detectar essa variação
do espaço pela passagem das ondas. Mas o desafio é inversamente
proporcional ao tamanho da oscilação. Para uma estrutura como a
do Ligo (dois observatórios
iguais, um na Louisiana, sul dos
EUA, e outro no Estado de Washington, no noroeste), com 4 km
de extensão cada, a variação de tamanho causada pelas ondas gravitacionais é da ordem dos 10-18 m
(0,000000000000000001 m).
Um núcleo atômico é cerca de
mil vezes maior. A idéia é usar
dois feixes de laser perpendiculares (numa estrutura em forma de
"L") e medir qualquer descompasso entre eles, causado por uma
onda gravitacional.
A eventual detecção de ondas
gravitacionais não só vai dar mais
um ponto para a teoria de Einstein, mas também pode abrir, como disse David Shoemaker, do
MIT (Instituto de Tecnologia de
Massachusetts), "um novo campo na astronomia".
Os astrônomos têm a esperança
de detectar o equivalente gravitacional da radiação cósmica de
fundo, o eco do Big Bang que os
cientistas hoje usam para estudar
o início do Universo, composto
pelos primeiros traços de radiação luminosa que surgiram.
A radiação cósmica de fundo é
basicamente o limite atual de observação do passado do cosmos.
Ela foi gerada uns 100 mil anos
após a explosão que gerou o Universo. Mas, se o estudo das ondas
gravitacionais for possível, os
cientistas poderão analisar informação bem mais antiga. Estima-se que os primeiros traços de radiação gravitacional emitidos
após o Big Bang tenham ocorrido
apenas 10-24 segundos depois do
nascimento do Universo.
E se, depois de todo esse investimento, nada for detectado? "Aí
então nós vamos precisar repensar todo o entendimento atual
que temos do espaço-tempo", diz
Shoemaker.
(SN)
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