|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Técnica ajuda a obter identidade de ossada
EVANDRO SPINELLI
DA FOLHA RIBEIRÃO
O médico Marco Aurélio Guimarães, do Cemel (Centro de Medicina Legal) e do Departamento
de Patologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto,
desenvolveu uma técnica que
possibilita a identificação de DNA
até em restos arqueológicos.
A técnica inovadora para a extração do DNA de ossos e dentes
foi desenvolvida pelo médico na
Universidade de Sheffield, Reino
Unido, durante seu pós-doutorado. A descoberta chamou a atenção inclusive da revista científica
"Nature", uma das mais importantes do mundo, que publicou,
neste mês, uma reportagem sobre
o Cemel de Ribeirão Preto.
A técnica desenvolvida por Guimarães é uma evolução dos métodos existentes no mundo para a
extração do DNA de ossos. A diferença é que o método aplica apenas uma PCR (reação em cadeia
da polimerase, utilizada para
multiplicar sequências de DNA
que se quer estudar), enquanto
nos sistemas tradicionais eram
necessárias duas reações.
A mudança multiplicou a precisão do exame. Antes seria possível
identificar uma pessoa em um
universo de 1 bilhão. Agora, a proporção é de uma em 1 trilhão.
"Em exame de paternidade, por
exemplo, dá para identificar a
pessoa com um nível de confiabilidade absurdo. Antes, se havia
dois irmãos muito parecidos, a
gente podia dizer: "Esse pode ser o
pai, mas também há uma possibilidade de ser aquele". Agora, só se
forem gêmeos univitelinos para
não conseguirmos definir com
precisão", afirmou o médico.
A técnica funcionou em cinco
ossadas de pelo menos 800 anos
encontradas em sítios arqueológicos e em dentes de um cadáver da
vala comum do cemitério Dom
Bosco, em Perus, Grande São
Paulo, usada durante o regime
militar (1964-1985) para o enterro
dos corpos de presos políticos.
Funcionou também em ossadas
encontradas nos canaviais da região de Ribeirão Preto.
Nos restos arqueológicos foi
possível identificar apenas os traços do DNA. Os dados podem
ajudar a descobrir outros indícios
antropológicos, como características físicas de populações inteiras
e movimentos migratórios.
No caso do cemitério de Perus,
as informações obtidas em apenas um dente de uma das ossadas
podem servir para identificar a
pessoa. Guimarães disse que falta
apenas uma contraprova para ser
divulgada, com precisão, a identidade da vítima.
Texto Anterior: Antropologia: DNA afasta união de sapiens e neandertal Próximo Texto: Panorâmica - Eleição na SBPC: Debate entre candidatos acontece hoje na Folha Índice
|