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Brasil faz "embaixadas do clima" em países-ilhas
Em um mês, país abriu sete representações em pequenas nações insulares
Objetivo é fortalecer a
diplomacia conjunta na
Convenção do Clima, em
temas como a venda de
créditos de carbono
SOFIA FERNANDES
DE BRASÍLIA
O menor país insular do
mundo, a República de Nauru, ganhou na semana passada uma embaixada do Brasil.
Só em junho, foram criadas
sete representações diplomáticas do governo brasileiro
para atender países-ilhas, a
maioria no Pacífico Sul.
O ingrediente que move a
aproximação do Brasil com
pequenas ilhas é o aquecimento global. O bloco insular é o único parceiro do Brasil no esforço para conter a
venda de créditos de carbono
para algumas atividades que
não estão no mercado formal
do Protocolo de Kyoto, como
a captura e o armazenamento de gás carbônico.
A prática consiste na injeção do gás, principal causador do aquecimento global,
em reservatórios subterrâneos. Países como Noruega e
Inglaterra desenvolvem tecnologia própria para isso há
mais de dez anos.
O Brasil não é contrário à
prática, pondera Breno Dias
da Costa, chefe da Divisão de
Recursos Energéticos Não
Renováveis do Ministério das
Relações Exteriores. A Petrobras já faz reinjeção do gás
em alguns poços de petróleo.
A postura brasileira é condenar que o processo gere créditos de carbono a serem
vendidos aos países ricos.
Para o governo, não há
comprovação de que a prática seja totalmente segura.
"Se o reservatório vazar, se a
empresa for à falência, quem
toma conta disso?", questiona Helena Cantizano, da Assessoria Internacional do Ministério de Minas e Energia.
Os países que não conseguem atingir suas metas de
emissão de gás carbônico, e
que são livres para investir
em projetos de sequestro de
carbono em países em desenvolvimento e comprar deles
os créditos, estão entusiasmados com a tecnologia.
Mas o Brasil, que poderia
lucrar com o comércio dos
créditos, avalia que ceder
nesse ponto é perder posição
como protagonista no campo
das energias limpas.
Como a maioria dos países
dependentes de combustíveis fósseis defende a venda
de tais créditos, restou para o
Brasil o apoio das ilhas, que
temem sumir do mapa com o
aquecimento global.
Apesar de terem população e peso diplomático inexpressivos, o apoio desses países é considerado importante. No âmbito do Protocolo de
Kyoto e da Convenção do Clima da ONU, todo país tem o
mesmo peso para votar.
As novas embaixadas, diz
o Itamaraty, não vão gerar
mais custos. A representação
brasileira em Melequeoque,
na República de Palau, por
exemplo, funcionará nas Filipinas. O que deve ocorrer é
o aumento de viagens diplomáticas aos países-ilhas.
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