São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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MEMÓRIA
Há 20 anos, desaparecia Sérgio Porto

ROGÉRIO CÉZAR DE CERQUEIRA LEITE
do Conselho Editorial

Sérgio Pereira da Silva Porto, há 20 anos, em 19 de junho de 1979, jogava futebol em um longínquo posto avançado da ciência, na Sibéria, quando teve um infarto, morrendo momentos depois, aos 56 anos. Mas não sem antes ter quebrado as canelas de dois ou três russos, segundo cientistas ocidentais presentes àquele malfadado simpósio.
Porém a tragédia não surpreendeu, apesar da imensa vitalidade do cientista, que ainda é o físico brasileiro mais citado na literatura especializada. Sérgio era assim mesmo. Amava o risco, a aventura, física e intelectual. Jogava futebol -baixinho, desforrava com caneladas-, tênis e era bom enxadrista. Enfrentava caminhadas e velejava.
Quando o laser estava na infância, ele enfrentou aguerrida oposição para mostrar que essa inovação iria revolucionar a espectroscopia e a análise de materiais. Também foi pioneiro nas aplicações do laser na medicina.
Pesquisava com obsessão, era fanático pelo Vasco e pelo Baltimore Orioles e se derretia com Beethoven e com feijoada. Era generoso com os amigos e principalmente com os estudantes.
Poucos viveram tão intensamente. As risadas de Sérgio eram famosas. Em Los Angeles, conta-se, interromperam o tráfego por medo de terremoto ao ouvirem a estrondosa gargalhada sua. É por isso, talvez, que nós, cientistas brasileiros, tenhamos tanta inveja que quase sempre nos esquecemos de sua imensa contribuição científica e de recordar condignamente seu desaparecimento prematuro.


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