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PERISCÓPIO
Os príons e as doenças cerebrais no homem
JOSÉ REIS
especial para a Folha
O homem e vários animais domésticos são sensíveis a uma
doença grave e mortal chamada
de encefalopatia espongiforme
transmissível (TSE) ou doença
produzida por príons. Exemplo
da doença animal desse tipo é a
BSE, que provocou recente epizootia (doença que ataca diversos animais ao mesmo tempo)
no Reino Unido. Exemplo humano é a doença de Creutzfeldt-Jakob, caracterizada por
placas típicas no cérebro, além
de aspecto esponjoso.
Os príons, cuja descoberta valeu a S. Prusiner o Prêmio Nobel,
são por ele identificados como
microscópicos fragmentos de
proteína priônica (PrP) anormal
e pura. Alguns pesquisadores
descreveram outras substâncias
nessa proteína, inclusive ácidos
nucléicos, mas Prusiner proclama que o príon é "só proteína".
A. Aguzzi e C. Weissmann afirmam todavia que o conceito de
Prusiner não tem definição precisa e, na maior parte das vezes, é
apenas um termo operacional
para o agente transmissível, sem
implicações estruturais. Essas divergências têm provocado algumas pesquisas, embora a maioria
dos pesquisadores opte pela hipótese de Prusiner.
Admite-se que a lesão cerebral
nas doenças priônicas surja
quando a proteína priônica
anormal penetra no cérebro e
provoca a transformação da proteína normal na anormal, que
causa a doença.
G. Raymond e colaboradores
organizaram um teste bioquímico isento de células para reconhecer as relações entre várias
moléculas normais e anormais
de PrP e verificaram uma fraca,
porém detectável, interação positiva de PrP normal humano, o
que sugere a possibilidade de
transmissão da BSE ao homem.
Duas outras experiências, de A.
F. Hill e M. E. Bruce e respectivos
colaboradores, sugerem que um
agente semelhante cause tanto a
BSE quanto a variante da CJD
que apareceu no Reino Unido
quando a epizootia referida estava acabando. Não existe todavia
indicação da maneira pela qual a
BSE possa ter sido transmitida de
bovinos ao homem.
Observações epidemiológicas
mostram que a variante se alastrou, aumentou de incidência e
atacou trabalhadores rurais expostos ao gado, mas o quadro
patológico desses trabalhadores
não coincidia com o da variante.
Além disso, na Itália, onde a variante apareceu em trabalhadores que lidavam com o leite, não
se verificou a presença da BSE.
Outro ponto interessante foi a
tentativa de incluir entre as BSE
doenças como o Alzheimer, o
diabetes tipo 2 e outras em que
há a proteína fibrilar chamada
amilóide, iniciativa que malogrou.
Em vista dessas e de outras dificuldades, imaginou-se a transmissão por vírus, ainda não provada. Tudo mostra pois que o
terreno das doenças priônicas
ainda é movediço e Bruce Chesebro ("Science" 279, 42. 98) concita os cientistas a estudos mais
aprofundados que possam servir
de base à produção de medicamentos.
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