São Paulo, domingo, 19 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTURO


Brasileiro realiza últimos testes de fisioterapeuta mecânico; braços robóticos atuam em microincisões
Robôs médicos

Reprodução
Paciente faz exercícios com robô do MIT, projetado por pesquisador brasileiro nos EUA


MARCELO FERRONI
da Reportagem Local

Um cientista brasileiro nos EUA, Hermano Krebs, formado em engenharia naval na Universidade de São Paulo (USP), está terminando os últimos testes de um robô que auxilia na reabilitação de vítimas de derrame.
O robô, chamado MIT-Manus, foi projetado por Krebs e Neville Horgan, professor de engenharia mecânica e de ciências cognitivas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
A função do robô é realizar exercícios que movimentem os músculos que atuam nas articulações do ombro e do cotovelo, paralisados após o derrame.
Primeiro, um fisioterapeuta movimenta o braço mecânico do MIT-Manus, que "aprende" as operações. Em seguida, o braço do paciente é colocado em um suporte e o robô realiza a sequência.
O MIT-Manus mede os esforços do paciente e assim regula a resistência aplicada aos movimentos.
Para motivar a pessoa durante os exercícios, o sistema tem uma espécie de videogame.
"São jogos bem simples, já que muitos dos pacientes, após o derrame, sofrem de problemas cognitivos", diz Krebs. As funções cognitivas estão relacionadas à memória, orientação espacial e temporal, concentração e atenção.
Nos jogos, os pacientes têm de desenhar figuras, como um quadrado ou um círculo.
"O robô pode ser também usado apenas para medir as ações do braço do usuário", diz Horgan.
Seu protótipo ficou pronto em 1994. Os primeiros testes se iniciaram em janeiro de 1995 e se encerraram em abril de 1996.
Neles, foram usados dois grupos de dez pacientes. Um dos grupos, o experimental, usava o robô durante uma hora por dia. O outro grupo, o de controle, usava o robô somente uma vez por semana.
No grupo de controle, o robô atuava desligado. O braço bom do paciente guiava os movimentos do mecanismo.
Segundo Krebs, os testes serviram para estudar três fatores: se o uso do robô seria seguro, se não provocaria dores nos pacientes e se não traria consequências negativas durante a reabilitação.
"O grupo experimental, na média, recuperou o dobro de movimentos em relação ao outro", diz o brasileiro. "Mostramos que mais exercícios ajudam na recuperação do paciente."
Segundo Horgan, no entanto, não ficou provado se a reabilitação se deu apenas devido a um aumento no número de exercícios.
"Acredito, porém, que o uso do robô seja economicamente mais viável do que o uso de um fisioterapeuta", conclui Horgan.
"As vítimas de derrame costumam ter dores nos ombros e na mão paralisada", diz Krebs. "As dores nos ombros não aumentaram após o uso do robô."
Krebs afirma também que, em três anos de uso do MIT-Manus, não houve problemas. Krebs e Horgan estão realizando novos testes desde agosto de 1996 com grupos de 30 pacientes e devem prosseguir até o final deste ano.
"Os testes servirão também para identificar que exercícios ajudam a melhorar certas lesões no cérebro", diz Krebs, a respeito das mudanças entre os dois testes.
A Universidade da Califórnia, em Berkeley, também desenvolve robôs para uso médico. Mas, nesse caso, Shankar Sastry e colaboradores desenvolveram pequenos braços mecânicos para cirurgias.
Os braços e uma microcâmera acoplada a um endoscópio são introduzidos no paciente por meio de pequenos cortes. Os instrumentos, de tamanhos reduzidos, limitam-se a tesouras, pinças e outros instrumentos básicos.
O médico utiliza uma espécie de manche para manobrar as peças mecânicas. Os cientistas admitem ainda não ser possível fazer operações complicadas dessa forma.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.