|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTURO
Três novos estudos dão impulso à produção dos menores motores já desenvolvidos pela ciência
Movido a molécula
MARCELO FERRONI
da Reportagem Local
É uma catraca minúscula, formada por apenas 78 átomos, mas
levou quatro anos para ser construída. Seu movimento é limitado; ela emperra antes de chegar à
metade de uma volta completa.
No entanto, sua divulgação, no
início do mês, foi o suficiente para
deixar pesquisadores otimistas. O
mecanismo pode não funcionar
bem, mas é uma confirmação de
que a produção de motores moleculares é cada vez mais viável.
E esse sistema não foi o único a
ser anunciado recentemente. Outros dois motores moleculares,
que funcionam de formas diferentes, também foram apresentados este mês, em mais um impulso da nanotecnologia, ou o desenvolvimento de mecanismos com
bilionésimos de metro.
"Apesar de o motor que construímos não ser muito útil, no final ele prova um princípio. Estou
convencido de que motores mais
avançados deverão ser criados no
futuro", disse, em entrevista por
e-mail à Folha, Ben Feringa, envolvido em um dos projetos, da
Universidade de Groningen, na
Holanda.
Os estudos pertencem à área da
nanotecnologia, chamada assim
pela primeira vez em 1959 pelo físico norte-americano Richard
Feynman, um dos ganhadores do
Prêmio Nobel de Física de 1965.
Como disse Feynman, em 1960,
"há muito espaço lá embaixo", ou
seja, ao menos em teoria, seria
possível construir equipamentos
com centésimos da espessura de
um fio de cabelo.
Na década de 80, Kim Eric
Drexler, engenheiro do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), foi um dos responsáveis por levar essa idéia adiante.
Ele imaginava aplicações ainda
distantes do alcance da ciência,
como a produção de nanorrobôs
automontáveis, capazes de exercer funções impossíveis para o ser
humano.
"Fizemos uma descoberta fundamental que prova a viabilidade
de um motor molecular", continua Feringa. Entre as pesquisas
recentes, a que mais chamou a
atenção foi realizada por Ross
Kelly e colaboradores, da Boston
College, nos EUA.
A equipe desenvolveu uma catraca molecular que, ao receber
um composto, possibilita o movimento para apenas uma direção,
como um rotor ou uma engrenagem (veja quadro ao lado).
"Uma série de mecanismos moleculares havia sido sintetizada,
mas uma molécula capaz de produzir rotação unidirecional ainda
não havia sido divulgada", escreveram os pesquisadores, na edição de 9 de setembro da revista
britânica "Nature".
A criação do "quase-motor"
não tem utilidade somente para a
miniaturização de mecanismos.
A molécula criada pode ajudar a
entender como a energia química,
na natureza, pode ser convertida
em movimento controlado.
Esse estudo pode ajudar cientistas, por exemplo, a compreender
os motores moleculares que fazem com que seres unicelulares,
como bactérias, possam se locomover.
Sistemas diferentes
Outro estudo sobre motores
moleculares, conduzido por Feringa e, entre outros, Nagatoshi
Koumura, da Universidade Tohoku, no Japão, foi publicado na
mesma edição da "Nature".
O processo de movimentação é
outro. O motor, também unidirecional, entra em rotação quando
um raio de luz ultravioleta ou
uma mudança da temperatura do
sistema faz com que átomos de
carbono mudem sua disposição
dentro da molécula.
Cada processo de "troca" de posição entre átomos provoca a rotação do composto em 180, ou
metade de uma volta completa.
A terceira pesquisa foi publicada na edição deste mês da revista
"Nanotechnology". Carlo Montemagno e George Bachand, da
Universidade Cornell, nos EUA,
construíram um motor ao unir
uma molécula produzida em laboratório a outra "natural", sintetizada pela bactéria E. coli.
No motor, a molécula produzida pela bactéria, chamada ATP,
foi acoplada a um rotor sintetizado em laboratório. O ATP forneceu energia para que o pequeno
rotor funcionasse.
Texto Anterior: Periscópio - José Reis: Tamanho do cérebro e fatores do ambiente Próximo Texto: Micro/macro - Marcelo Gleiser: A estrutura dos átomos Índice
|