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FÍSICA
Grupo de 39 cientistas que tem 2 brasileiros fabricou ao menos 50 mil antiátomos; experimento pode revolucionar pesquisa
Cern consegue produzir antimatéria "fria"
LUISA MASSARANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Cientistas anunciaram ontem em artigo publicado on-line pela
revista científica britânica "Nature" (www.nature.com) a obtenção de antiátomos de hidrogênio com velocidades baixas ("frios") e
em grandes quantidades. Foram
produzidos pelo menos 50 mil
átomos de anti-hidrogênio, o elemento mais simples no mundo da
antimatéria, dotados de velocidades similares às dos átomos presentes na atmosfera.
O experimento foi realizado no
Cern, a Organização Européia de
Pesquisa Nuclear sediada na Suíça, e abre caminho para testar de
uma forma mais rigorosa alguns
dos pilares da física moderna.
A antimatéria é como uma imagem da matéria usual refletida no
espelho. Cada partícula elementar
tem sua correspondente de antimatéria com mesma massa e carga elétrica oposta. Quando se encontram, partícula e antipartícula
se aniquilam, produzindo energia. Inversamente, a energia pode
ser convertida em pares de matéria e de antimatéria.
O anti-hidrogênio tem um antielétron (ou pósitron) que orbita
um núcleo com um antipróton,
em contraste com o elétron e o
próton do hidrogênio usual.
Os primeiros átomos de anti-hidrogênio haviam sido produzidos
sete anos atrás, mas tinham velocidade quase igual à da luz e duravam poucos bilionésimos de segundo, antes de se destruírem em
colisões. Isso era insuficiente para
fazer medidas com eles.
O experimento Athena (Antihydrogen Apparatus) reuniu 39
cientistas de seis países e permitiu
a produção de átomos de anti-hidrogênio que duram muito mais,
na casa dos milissegundos.
"Estamos trabalhando para, no
futuro, aprisionar os anti-hidrogênios em armadilhas magnéticas
nas quais devem durar horas",
afirma o cearense Claudio Lenz
Cesar, 38, pesquisador do Instituto de Física da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), integrante da equipe do Cern ao lado do ítalo-brasileiro Alessandro
Variola, do Instituto Nacional de
Física Nuclear da Itália.
O anti-hidrogênio produzido
deve permitir novas observações,
que podem colocar em xeque o
Modelo Padrão, até hoje a melhor
descrição física das partículas elementares e suas interações.
O experimento do Athena começou em 2000, quando entrou
em operação uma nova máquina
para desacelerar antiprótons. Foi
o início de uma disputa acirrada
entre dois grupos de pesquisa internacionais, ambos no Cern.
De um lado, ficou o grupo Atrap
(Antihydrogen Trap), liderado
pelo norte-americano Gerald Gabrielse, da Universidade Harvard.
De outro, o Athena. Gabrielse disse à Associated Press duvidar do
resultado obtido pelos rivais.
"Nossa longa experiência com esses experimentos difíceis ressalta
que observar a aniquilação simultânea de pósitrons e antiprótons
não assegura que anti-hidrogênio
tenha sido realmente produzido."
Na avaliação de Lenz, vários fatores permitiram que o Athena
chegasse na frente. "Nossa equipe
desenvolveu técnicas de produzir
e armazenar pósitrons mais eficientes que as do grupo rival.
Conseguimos armazená-los em
uma taxa 2.000 vezes maior."
Outra vantagem é a técnica de
detecção desenvolvida pelo Athena. O anti-hidrogênio é detectado
quando se aniquila em contato
com a matéria. "Observamos que
a aniquilação do antipróton e do
pósitron ocorreu no mesmo local
e no mesmo instante, significando que os dois chegaram juntos
ali", afirma o brasileiro.
Os átomos de anti-hidrogênio
são produzidos em uma armadilha eletromagnética, misturando
pósitrons e antiprótons previamente resfriados. O anti-hidrogênio é detectado quando se aniquila em contato com a matéria.
O encontro do antipróton com
um próton leva à destruição de
ambos e à emissão de partículas
chamadas píons. Os píons são então registrados num detector,
produzindo uma imagem.
Colaborou Ildeu de Castro Moreira, do
Instituto de Física da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro)
Com agências internacionais
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