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PALEONTOLOGIA
Animal de 8 milhões de anos é maior roedor de todos os tempos
"Supercapivara" pesava 700 quilos
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA FOLHA
Caçadores de hoje adoram carne de capivara, mas provavelmente poucos teriam coragem de
encarar o gigantesco parente dela
cujo esqueleto quase completo foi
descoberto na Venezuela. O Phoberomys pattersoni, que viveu há
cerca de 8 milhões de anos, deve
ter pesado 700 kg e era tão grande
quanto um búfalo moderno.
"É o maior roedor já encontrado, o que mostra a grande plasticidade evolutiva desse grupo",
disse à Folha a paleontóloga argentina Inés Horovitz, 37, da Universidade da Califórnia em Los
Angeles (EUA). Ao lado de seus
colegas Marcel Sánchez-Villagra e
Orangel Aguilera, ela estudou os
fósseis e o parentesco do bicho
para a pesquisa que sai hoje na revista "Science".
"Já sabíamos que ele devia ser
imenso por causa dos poucos
dentes encontrados antes, mas só
agora, com esse esqueleto bastante completo, foi possível estimar o
peso do animal." A descoberta foi
feita em 1999 por Orangel Aguilera, pesquisador da Universidade
Nacional Experimental Francisco
de Miranda, na Venezuela, quando ele levava seus alunos num
passeio para conhecer as formações geológicas de Urumaco (noroeste do país).
Aparentemente, o Phoberomys
(algo como "rato assustador" em
grego) vivia em banhados perto
do mar, alimentando-se de gramíneas como fazem as capivaras
de hoje. Seu parente mais próximo ainda vivo, no entanto, é outro roedor que também existe no
Brasil, a pacarana.
Dois motivos podem ter levado
a criatura a atingir um tamanho
tão desproporcional, diz Horovitz. "Na época em que ele viveu, a
América do Sul era um continente-ilha, isolado dos demais. Isso
deixou livre vários nichos ecológicos que os animais presentes ali
poderiam evoluir para ocupar,
como comer pasto e viver em ambientes costeiros, no caso do Phoberomys", afirma a paleontóloga.
Por outro lado, animais que se
alimentam de comida rica em celulose (vegetais pouco nutritivos,
como grama) têm a ganhar se forem grandalhões. É que seu sistema digestivo aumenta, o que lhes
permite absorver com mais calma e eficiência os nutrientes da
celulose, com a ajuda de bactérias
que vivem no intestino.
O problema, agora, é descobrir
o que causou a extinção desse gigante. Uma das hipóteses é a mudança ambiental, diz Horovitz;
afinal, hoje a região de Urumaco é
quase um deserto. Por outro lado,
o P. pattersoni pode ter sido mais
uma vítima do Grande Intercâmbio Faunístico. Nesse evento, as
Américas do Norte e do Sul se
uniram há 3 milhões de anos, o
que extinguiu muitas espécies sulistas pela competição com os recém-chegados norte-americanos.
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