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São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2003

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PALEONTOLOGIA

Animal de 8 milhões de anos é maior roedor de todos os tempos

"Supercapivara" pesava 700 quilos

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA FOLHA

Caçadores de hoje adoram carne de capivara, mas provavelmente poucos teriam coragem de encarar o gigantesco parente dela cujo esqueleto quase completo foi descoberto na Venezuela. O Phoberomys pattersoni, que viveu há cerca de 8 milhões de anos, deve ter pesado 700 kg e era tão grande quanto um búfalo moderno.
"É o maior roedor já encontrado, o que mostra a grande plasticidade evolutiva desse grupo", disse à Folha a paleontóloga argentina Inés Horovitz, 37, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA). Ao lado de seus colegas Marcel Sánchez-Villagra e Orangel Aguilera, ela estudou os fósseis e o parentesco do bicho para a pesquisa que sai hoje na revista "Science".
"Já sabíamos que ele devia ser imenso por causa dos poucos dentes encontrados antes, mas só agora, com esse esqueleto bastante completo, foi possível estimar o peso do animal." A descoberta foi feita em 1999 por Orangel Aguilera, pesquisador da Universidade Nacional Experimental Francisco de Miranda, na Venezuela, quando ele levava seus alunos num passeio para conhecer as formações geológicas de Urumaco (noroeste do país).
Aparentemente, o Phoberomys (algo como "rato assustador" em grego) vivia em banhados perto do mar, alimentando-se de gramíneas como fazem as capivaras de hoje. Seu parente mais próximo ainda vivo, no entanto, é outro roedor que também existe no Brasil, a pacarana.
Dois motivos podem ter levado a criatura a atingir um tamanho tão desproporcional, diz Horovitz. "Na época em que ele viveu, a América do Sul era um continente-ilha, isolado dos demais. Isso deixou livre vários nichos ecológicos que os animais presentes ali poderiam evoluir para ocupar, como comer pasto e viver em ambientes costeiros, no caso do Phoberomys", afirma a paleontóloga.
Por outro lado, animais que se alimentam de comida rica em celulose (vegetais pouco nutritivos, como grama) têm a ganhar se forem grandalhões. É que seu sistema digestivo aumenta, o que lhes permite absorver com mais calma e eficiência os nutrientes da celulose, com a ajuda de bactérias que vivem no intestino.
O problema, agora, é descobrir o que causou a extinção desse gigante. Uma das hipóteses é a mudança ambiental, diz Horovitz; afinal, hoje a região de Urumaco é quase um deserto. Por outro lado, o P. pattersoni pode ter sido mais uma vítima do Grande Intercâmbio Faunístico. Nesse evento, as Américas do Norte e do Sul se uniram há 3 milhões de anos, o que extinguiu muitas espécies sulistas pela competição com os recém-chegados norte-americanos.

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