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Mecanismo de Kyoto é ineficaz contra CO2
Levantamento indica que metade dos projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo não produzem redução real
Estudo analisou cem dos 860 projetos de MDL em curso; para coordenador, mecanismo é jovem demais para funcionar idealmente
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Em vez de ajudar na redução
da emissão dos gases de efeito
estufa, o MDL (Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo) pode
estar atrapalhando.
Um levantamento inédito
feito pelo grupo internacional
que analisa as metodologias
usadas para gerar créditos de
carbono indica que até 50% dos
projetos já em andamento podem ter sido "maquiados" para
a aprovação. O levantamento
foi feito por amostragem, analisando cem projetos dos 860 hoje em curso no âmbito do MDL.
"Vamos supor que determinada usina seria movida a carvão. No momento das contas
[para sua implementação], o
empreendedor achou um método mais barato e, por coincidência, mais limpo. Só que, no
papel, ele enviou para a aprovação o projeto inicial, movido a
carvão", explica Roberto
Schaeffer, professor da Coppe-UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro) e um dos
consultores das Nações Unidas
que fazem a análise das metodologias do MDL.
"Esse é um chamado processo não adicional. Ele está reduzindo uma emissão que nunca
seria feita por aquele projeto",
diz o pesquisador.
Para o engenheiro, que diz
acreditar nos mecanismos de
mercado para a redução do carbono atmosférico, projetos distorcidos como os já aprovados
no âmbito da ONU são verdadeiros "cheques em branco para os países ricos".
Hoje, o Reino Unido é um dos
maiores compradores de créditos de carbono. Fica com aproximadamente 50% dos créditos
emitidos. Do lado dos países
em desenvolvimento, a China,
com 61% do mercado, é a nação
que mais vende.
A compra e venda de créditos
de carbono funciona dentro do
âmbito do Protocolo de Kyoto.
Os países em desenvolvimento,
que não têm metas obrigatórias, podem vender aos ricos,
via MDL, reduções de emissão
feitas por projetos de energia
limpa nessas nações, nas quais
o custo de redução é menor que
nos países industrializados.
Com a compra, a redução das
emissões acaba ocorrendo de
forma remota e não dentro das
fronteiras do poluidor. Mesmo
assim, ele pode usar os créditos
de carbono comprados no Terceiro Mundo para abater sua
meta doméstica de corte.
"Esta estimativa mostra que
o controle precisa ser menos
frouxo", explica Schaeffer. "A
implantação [dos projetos de
MDL] está ineficiente."
A expectativa do mercado é
que nos próximos quatro anos
os créditos de carbono estejam
movimentando, em escala
mundial, algo entre US$ 25 bilhões e US$ 50 bilhões.
Ontem a UNFCCC, a Convenção do Clima da ONU, comemorou a concessão do centésimo milionésimo certificado
de redução. Ou seja, o MDL já
teria evitado a emissão de 100
milhões de toneladas de CO2. O
secretário-executivo da convenção, Yvo de Boer, apresentou o número como prova de
sucesso no combate ao aquecimento global, já que o mecanismo funciona só há dois anos.
"Isso é só um mercado. Esses
processos não geram emprego
e não transferem tecnologia",
afirma Schaeffer.
Para Hans Jürgen Stehr, presidente do Comitê do MDL
(entidade que coordena o mecanismo), o MDL é, sim, efetivo
na mitigação da mudança climática, embora em projetos de
energia a questão da adicionalidade "fique mais complicada".
"Produzir eletricidade também significa que você ganha
dinheiro, e se você ganha dinheiro você pode fazer algo que
não faria de outra maneira." No
entanto, Stehr afirma que o
MDL está sendo aperfeiçoado.
"Em um tempo incrivelmente curto nós estabelecemos um
mercado de bilhões de dólares.
Não seria realista assumir que
você conseguiria fazer algo
funcionar perfeitamente num
tempo tão curto."
Colaborou CLAUDIO ANGELO, editor de Ciência
O legado da conferência de Bali bali40graus.folha.blog.uol.com.br
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