|
Próximo Texto | Índice
CIÊNCIA
Técnica pode restaurar a medula espinhal
MARCELO FERRONI
Editor-assistente de Ciência
Cientistas britânicos podem ter
descoberto uma forma de recuperar o tato de pacientes que perderam essa função devido a danos à
medula espinhal.
O estudo, publicado hoje na revista "Nature", corrigiu, em ratos,
um tipo específico de lesão à medula, em que é rompida a conexão
entre nervos periféricos do corpo
humano e o sistema nervoso central (medula espinhal e cérebro).
"Descobrimos uma forma de
reconectar essas fibras nervosas à
medula espinhal de ratos e poderemos, no futuro, usar a mesma
terapia para danos em humanos",
disse, em entrevista por e-mail à
Folha, Matt Ramer, da Escola de
Medicina de Guy, King e St. Thomas, em Londres.
"A aplicação clínica do método
deverá ocorrer em questão de
anos, não de décadas", afirmou.
No entanto, novos estudos precisam comprovar a eficiência da
técnica, avaliou Luís Augusto Rogano, da clínica de lesão medular
da AACD (Associação de Apoio à
Criança Defeituosa)."Em laboratório há bons resultados, mas o
mesmo não acontece quando o
método é aplicado a humanos."
A lesão tratada por Ramer e sua
equipe costuma ocorrer, em humanos, devido a acidentes em alta
velocidade, como no caso da queda de uma motocicleta.
"Quando uma pessoa cai com a
moto, é comum que seu corpo vá
para um lado e o braço, para outro", disse Rogano. "Nesses casos,
há uma lesão da zona de entrada
da raiz dorsal na medula."
Ou seja, a ligação entre os nervos do corpo, mais especificamente de um dos braços, perde o
contato com o sistema nervoso
central. Acidentes desse tipo são
chamados de avulsão.
Rogano estima que esses casos
de lesão correspondem a cerca de
10% dos acidentes na medula espinhal. Nos EUA, há anualmente
cerca de 10 mil a 12 mil acidentes
que prejudicam a medula.
Ligação restaurada
O estudo usou cerca de cem ratos. Primeiro, eles tinham a sua ligação nervosa cortada cirurgicamente, o que fazia com que perdessem, em uma das patas, o tato.
Em seguida, os cientistas injetaram grandes doses de substâncias
chamadas fatores neurotróficos.
Esses fatores de crescimento, presentes em pequenas quantidades
no organismo, mantêm "saudáveis" os neurônios do corpo.
Após duas semanas, o tato dos
ratos foi testado, com pressão das
patas e uso de água quente. Os
animais reagiram aos estímulos.
"O fato de os ratos terem recuperado alguma sensação já é muito
encorajador", disse Ramer.
O método, no entanto, precisou
ser aplicado logo depois do dano.
"Se o paciente for tratado depois
de um ano, já há uma reação cicatricial dos nervos. Às vezes, eles
também atrofiam", disse Rogano.
Os fatores neurotróficos atuaram como um estímulo adicional
ao ligamento dos feixes nervosos
e "pularam" uma barreira natural
da medula espinhal, que contém
substâncias que bloqueiam essa
nova aproximação dos nervos.
Segundo Ronaldo Azze, ortopedista do Hospital da Clínicas, pesquisas semelhantes são realizadas
em vários países, inclusive no
Brasil. "No momento, não temos
nada muito positivo."
Segundo Ramer, "a importância do estudo é que agora há esperanças de restaurar as fibras nervosas, permitindo aos pacientes
recuperar o tato e aliviando a dor
associada a esse tipo de dano".
Próximo Texto: Pesquisas testam outras alternativas Índice
|