São Paulo, Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2000


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Plantio de transgênicos cresce 44%

MARCELO LEITE
especial para a Folha

O fosso que separa a opinião pública dos agricultores, na questão dos alimentos transgênicos, só faz aumentar. Enquanto aquela continua dando sinais de desconfiança em relação à tecnologia, estes parecem mais e mais satisfeitos com ela, ampliando a área plantada em 44% em 1999.
No ano anterior, quando a polêmica chegou ao Brasil, havia no mundo 27,8 milhões de hectares plantados com organismos geneticamente modificados (OGMs). Em 1999, a área alcançou um total de 39,9 milhões de hectares, movimentando US$ 2 bilhões.
Os dados são do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia (Isaaa), uma organização financiada em parte por indústrias de biotecnologia. No Brasil, por exemplo, esses dados foram divulgados pela Monsanto, que tenta obter no país aprovação para a variedade transgênica de soja Roundup Ready.
Trata-se de uma soja resistente ao herbicida Roundup, da própria Monsanto. Transferido para a planta um gene bacteriano, ela se tornou imune ao glifosato (princípio ativo do Roundup).
Pulverizada a plantação, mesmo depois de brotada a soja, morrem só as ervas daninhas, o que simplifica a vida dos produtores. Não é à toa que agricultores estão aderindo depressa ao produto, nos países em que foi permitido.
Nos Estados Unidos, maior produtor mundial de soja, as variedades transgênicas já representam 55% da área plantada. Na Argentina, respondem por 80%.
São 12 as nações em que os alimentos transgênicos estão aprovados para plantio em escala comercial. Mas 99% da área plantada com OGMs está concentrada em três países, EUA, Argentina e Canadá.
No Brasil, a questão ainda se encontra "sub judice". A Monsanto obteve em 1998 licença da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para comercializar a Roundup Ready, mas essa autorização foi questionada na Justiça.
Alegando riscos para a saúde humana e para o ambiente, organizações como a ambientalista Greenpeace e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) iniciaram uma ação contra a soja. Já obtiveram sentenças favoráveis, determinando a realização de um relatório de impacto ambiental, mas não há ainda decisão definitiva.
No campo científico, prossegue também o debate. Não foram ainda documentados efeitos danosos à saúde, como alergias. Como esses alimentos são vendidos nos EUA sem rotulagem, não haveria como saber se eventuais danos foram ou não causados por eles.
Mais recentemente, tem crescido a preocupação com possíveis efeitos ambientais. Outra linha de produtos muito popular são variedades resistentes a insetos, porém algumas pesquisas indicam que podem provocar a morte de insetos benéficos, além de pragas.


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