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Terremotos e mudança no clima destruíram cidades peruanas há 3.600 anos
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma mudança ambiental
radical -com terremotos e
inundações- é o que provavelmente aniquilou a cultura
de Caral-Supe, no Peru, uma
das primeiras grandes civilizações sul-americanas. Um
estudo publicado hoje mostra
como esse povo, que ocupou o
norte do país por 2.000 anos,
abandonou a região de forma
abrupta, em apenas 200 anos.
O principal fator foi uma alteração natural no ciclo climático ocorrida há 3.600 anos,
com intensos El Ninõs, diz
um estudo publicado hoje na
revista "PNAS", liderado pelo
antropólogo Daniel Sandweiis, da Universidade do
Maine (EUA).
O trabalho se baseou em
uma série de evidências geológicas nos sítios arqueológicos de Caral (localizado no interior, 182 km ao norte de Lima) e de Áspero, no litoral.
O cenário descrito por Michael Moseley, cientista da
Universidade da Flórida que
também participou do estudo, é desolador. "No final do
período analisado [entre
3.600 e 3.800 anos atrás] alguns templos foram reconstruídos, mas outros não."
Em Áspero, diz Moseley, o
povo chegou a viver entre os
templos danificados, perto de
terras férteis que tinham sofrido depósitos de sedimentos e virado arenais. "Houve
até rejeição aos deuses, algo
que aumentou quando a invasão da areia ficou maior."
O aumento de sedimentos
no local foi resultado de uma
sequência de eventos. Terremotos, primeiro, alteraram a
configuração geológica local.
Ao mesmo tempo, inundações afetarem diretamente as
cidades e carregaram mais
areia para a região.
O depósito de sedimento
perto da costa, então, fez com
que o rio Supe -eixo do vale
que abrigava a civilização-
fosse modificado. A pesca e a
irrigação que sustentavam a
economia local ruíram.
Segundo os cientistas, o
desfecho foi quase imediato.
A sociedade de Caral-Supe,
que prosperou no norte do
Peru 4.000 anos antes dos incas, acabou sucumbindo às
intempéries da natureza.
Os povos que passaram a
habitar a região depois mudaram seu modo de agir, afirmam os cientistas envolvidos
na pesquisa. "Essas novas
pessoas usavam cerâmica,
uma espécie de tecelagem e
uma maior diversidade agrícola", diz Moseley.
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