São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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Nirenberg, decifrador do código genético, morre aos 82 nos EUA

Bioquímico que revelou relação entre DNA e proteína ganhou Nobel de 1968

MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA

A biologia molecular tem como ícones James Watson e Francis Crick, dupla que se tornou tão popular quanto seu modelo da estrutura do DNA em dupla hélice, descoberta em 1953. Essa ciência não existiria, porém, sem a decifração do código genético -e aqui o iniciador de tudo foi um obscuro bioquímico dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA, Marshall Warren Nirenberg.
Em 1961, era forte a competição para quebrar o código. Sabia-se que o DNA era composto por uma sequência variada de quatro tipos de substâncias (bases nitrogenadas), simbolizados pelas letras A, U, C e G. Também era sabido que proteínas se compunham de uma sequência de aminoácidos (20 tipos). O que se desconhecia era a relação entre uma coisa e outra.
Watson, Crick e várias cabeças privilegiadas competiam para descobrir qual a correlação entre sequências. Era um dos tópicos quentes do Congresso Internacional de Bioquímica de Moscou, em 1961.
Enquanto as estrelas debatiam o quebra-cabeças no plenário principal, Nirenberg apresentava a primeira peça para apenas 35 pessoas num seminário paralelo. A pedido de Crick, reapresentou o estudo depois. Causou furor.
Em colaboração com Heinrich Matthaei, Nirenberg realizara um experimento para provar que a "sílaba" (ou códon) UUU era traduzida como o aminoácido fenilalanina. A decifração dos outros 63 códons demoraria ainda meia década, e renderia prêmios Nobel para vários envolvidos, inclusive Nirenberg (1968). Numa entrevista a Salvador Nogueira, em 2003, afirmou: "Nunca liguei para os holofotes. O que gosto é do trabalho".
Nirenberg foi casado por 40 anos com a química brasileira Perola Zaltzman, morta em 2001. O cientista morreu no último dia 15, em Nova York, aos 82 anos, de câncer.


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