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Nirenberg, decifrador do código genético, morre aos 82 nos EUA
Bioquímico que revelou relação entre DNA e proteína ganhou Nobel de 1968
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
A biologia molecular tem como ícones James Watson e
Francis Crick, dupla que se tornou tão popular quanto seu
modelo da estrutura do DNA
em dupla hélice, descoberta em
1953. Essa ciência não existiria,
porém, sem a decifração do código genético -e aqui o iniciador de tudo foi um obscuro bioquímico dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA,
Marshall Warren Nirenberg.
Em 1961, era forte a competição para quebrar o código. Sabia-se que o DNA era composto
por uma sequência variada de
quatro tipos de substâncias
(bases nitrogenadas), simbolizados pelas letras A, U, C e G.
Também era sabido que proteínas se compunham de uma sequência de aminoácidos (20 tipos). O que se desconhecia era a
relação entre uma coisa e outra.
Watson, Crick e várias cabeças privilegiadas competiam
para descobrir qual a correlação entre sequências. Era um
dos tópicos quentes do Congresso Internacional de Bioquímica de Moscou, em 1961.
Enquanto as estrelas debatiam o quebra-cabeças no plenário principal, Nirenberg
apresentava a primeira peça
para apenas 35 pessoas num seminário paralelo. A pedido de
Crick, reapresentou o estudo
depois. Causou furor.
Em colaboração com Heinrich Matthaei, Nirenberg realizara um experimento para
provar que a "sílaba" (ou códon) UUU era traduzida como
o aminoácido fenilalanina. A
decifração dos outros 63 códons demoraria ainda meia década, e renderia prêmios Nobel
para vários envolvidos, inclusive Nirenberg (1968). Numa entrevista a Salvador Nogueira,
em 2003, afirmou: "Nunca liguei para os holofotes. O que
gosto é do trabalho".
Nirenberg foi casado por 40
anos com a química brasileira
Perola Zaltzman, morta em
2001. O cientista morreu no último dia 15, em Nova York, aos
82 anos, de câncer.
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