São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

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Físicos travam nova corrida por partícula

Com experimento gigante europeu fechado para reparo, acelerador menor nos EUA diz ter 50% de chance de vitória

Grupo de Chicago espera poder chegar antes do LHC à detecção do bóson de Higgs, partícula elementar que confere massa à matéria

Cern
Engenheiro trabalha no túnel do acelerador de partículas LHC

EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

O Fermilab, instituto de pesquisa dos Estados Unidos que abriga o Tevatron, maior acelerador de partículas em funcionamento no mundo -o europeu LHC, bem maior, continua quebrado- poderá surpreender a comunidade científica em todo o mundo até dezembro.
Em Chicago, Dmitri Denisov, diretor da instituição americana, afirmou que eles estão perto de verificar a existência do cobiçado bóson de Higgs. "Nós temos pelo menos 50% de chances de que isso ocorra até o fim do ano", afirmou o dirigente do Fermilab durante a reunião da AAAS (Sociedade Americana para o Avanço da Ciência, na sigla em inglês).
Apesar de não querer criar polêmica, ou uma competição entre o Tevatron e o LHC -gigantesco acelerador de partículas que no ano passado, após a inauguração, pifou- a frase de Denisov serviu para declarar aberta a corrida entre os dois centros de alta energia. Quem conseguirá descobrir, na prática, o bóson de Higgs?
"Não se trata de uma corrida, porque inclusive, do ponto de vista científico, colaboramos muito entre nós", tentou despistar Denisov.
Mas, se a partícula de Higgs realmente existir, o que poderia elucidar definitivamente o mistério físico da massa (veja texto à direita), ninguém apostaria que ela não surgiria no LHC, acelerador de partículas subterrâneo perto de Genebra, na Suíça. Ainda mais após toda a pompa e circunstância que cercou a inauguração do centro em setembro de 2008.
O projeto europeu, que custou US$ 10 bilhões e começou a ser projetado em 1994, tem como um dos seus primeiros grandes objetivos exatamente descobrir o bóson de Higgs.

Energia na agulha
Para que isso ocorra, entretanto, a primeira informação importante a ser obtida é a massa da partícula. Denisov aposta que ela teria por volta de "150 bilhões de elétrons-volt".
Traduzindo, significa que tanto o Tevatron quanto o LHC têm energia suficiente para criar o bóson. Apesar de a máquina europeia ter uma potência sete vezes maior, aproximadamente, do que a americana.
Mesmo que os planos estejam certos -e que o LHC volte a operar este ano- ele deve passar a funcionar com 5 trilhões de elétrons-volt, e não com os 7 trilhões de elétrons-volt, como estava planejado antes.
Mas é por causa da questão do ruído de fundo, energia que nem sempre é útil para as análises científicas, disseram os cientistas reunidos em Chicago, que o Fermilab poderá ser o vencedor do páreo.
No Tevatron, a colisão é feita entre um próton e seu antipróton. Enquanto no LHC, a "batida" energética é feita entre prótons, depois que eles são lançados, em alta velocidade, no acelerador. No caso europeu, o túnel circular de 27 quilômetros, por exemplo, é percorrido 11 mil vezes por segundo pelo feixe de próton. Mas a operação gera muito ruído, que dificulta a detecção do bóson de Higgs.
A história cronológica das duas instituições também favorece o Fermilab. Inaugurado em 1983, o túnel de 6,3 quilômetros de extensão, que passou por vários aprimoramentos, o maior em 2001, estaria mais azeitado, dizem os cientistas.
Segundo Joe Lykken, do Fermilab, se a descoberta ocorrer, "provavelmente" ela poderá ser identificada na hora.


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