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Única vacina para HIV com sucesso parcial sofre revés
Grupo descobre que droga, anunciada em 2009, só oferece proteção temporária
Imunização, que reduzia em 31% o risco de contágio, foi a primeira em 20 anos a não ser um fracasso; ela ainda será útil, dizem os cientistas
RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas anunciaram ontem mais um obstáculo na luta
contra a Aids. A vacina que, em
setembro do ano passado, ganhou destaque por conseguir
diminuir em 31% o risco de
contaminação por HIV em voluntários na Tailândia, na verdade não funciona tão bem. Segundo os próprios pesquisadores que a testaram, a proteção
que ela oferece é apenas temporária -cerca de um ano.
O valor de 31% pode não parecer alto. Realmente seria necessário mais do que isso para
que fosse viável produzir uma
vacina em grande escala. Mas
era a primeira vez em que uma
vacina tinha algum grau de sucesso, mesmo que parcial. A esperança era que, a partir dela,
fosse possível desenvolver uma
imunização mais eficaz.
Por isso, na época, os cientistas envolvidos na pesquisa estavam otimistas. Eles pertenciam a órgãos americanos -incluindo o Exército- e tailandeses, além de uma empresa e
uma ONG, donas cada uma de
metade da vacina.
Anthony Fauci, chefe do Instituto Nacional de Alergia e
Doenças Infecciosas dos EUA,
um dos financiadores do teste
na Tailândia, disse então: "Faz
mais de 20 anos que todas as
vacinas foram essencialmente
fracassos. Parece que estávamos tateando por um corredor
escuro, até que uma porta finalmente se abriu".
A porta continua aberta, mas
agora parece que será ainda
mais difícil atravessá-la.
Ainda útil
Para o coronel Nelson Michael, do Instituto Walter Reed
de Pesquisas do Exército dos
EUA, que anunciou as novas
descobertas na Conferência de
Retrovírus e Infecções Oportunistas, em São Francisco
(EUA), a vacina ainda é útil.
"Ela tem um efeito fraco e modesto, mas é possível construir
algo a partir dela."
Para ele, o tempo limitado de
proteção da vacina, conhecida
como RV 144, não é motivo para jogá-la no lixo. "É o ideal?
Não é. Mas existem vacinas, como a da gripe, que você tem de
tomar todos os anos."
Esper Kallás, infectologista
da USP, concorda. "É algo que
acaba criando mais um problema, mas não é um abalo. A situação ainda é melhor do que
alguns meses atrás, quando a
gente não tinha nada." Para ele,
as estratégias de vacinação podem se adaptar a uma vacina
que não dure a vida inteira.
"Em diferentes fases da vida,
as pessoas tem riscos diferentes de infecção pelo HIV. Uma
criança praticamente não tem
risco de transmissão sexual,
mas no final da adolescência
esse risco dá um pulo. Você pode identificar os períodos de
vulnerabilidade e adequar as
estratégias de vacinação."
Como assim?
Quando anunciaram o sucesso parcial da vacina, os cientistas deixaram claro que não conheciam bem como ela funcionava. Agora, além de não saberem como ela funciona, também não entendem como ela
perde eficácia com o tempo.
"Todos querem saber por
que ela funcionou e quais testes
poderíamos ter feito no laboratório para prever isso", diz Michael. O sangue dos voluntários
continuará a ser analisado em
busca de pistas que possam levar a explicações sobre como a
vacina funciona, diz ele.
Os resultados dessas novas
análises levarão cerca de um
ano. Enquanto isso, cientistas
no mundo inteiro estarão procurando paralelamente maneiras de entender como vacinas
podem barrar o HIV.
Com Reuters
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