São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 2000


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MEDICINA
Teste genético criado pela Unifesp usa amostra de sangue para identificar problemas após o transplante
Exame detecta a rejeição de órgãos

GABRIELA SCHEINBERG
da Reportagem Local

Um novo exame, desenvolvido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pode identificar, a partir de uma pequena amostra de sangue, o processo de rejeição em uma pessoa que se submeteu a transplante de rim.
Hoje, a única forma de avaliar se um paciente está sofrendo rejeição é por meio de biopsias, na qual uma parte do tecido do rim é retirado para análise.
"Em 5% dos casos, a biopsia pode causar complicações, além de ser um desconforto para o paciente", disse Alvaro Pacheco e Silva Filho, coordenador do Laboratório de Imunologia Molecular e professor de Nefrologia da Unifesp. Por isso, esse novo exame poderá facilitar a vida das pessoas que receberam um rim.
Para criar o teste, que ainda está em fase experimental, primeiro foi preciso localizar genes que estão relacionados à rejeição. Lauro Monteiro Vasconcellos Filho, que defendeu a técnica como sua tese de doutorado, em conjunto com laboratórios da Universidade Harvard, nos EUA, identificou esses genes.
No total, são três genes hoje identificados como sendo participantes do processo de rejeição do rim. Com uma pequena amostra de sangue, é possível procurar esses genes e identificar o processo de rejeição.
"Se o paciente tiver os três genes, o risco de rejeição é de 100%", disse Silva Filho, que orientou a tese de Vasconcellos Filho. "E o exame demora apenas seis horas para ficar pronto."

Monitoramento
O acompanhamento do paciente que recebeu o rim é muito importante. Cerca de 35% dos transplantados apresentam problemas de rejeição. Isso ocorre porque o rim do doador possui várias proteínas estranhas que o corpo do receptor não reconhece.
Para se proteger, o organismo inicia um processo contra essas proteínas, ou seja, contra o próprio órgão que foi transplantado. Para evitar esse ataque, o paciente precisa tomar drogas imunossupressoras.
Essas drogas, como o próprio nome diz, debilitam o sistema de defesa do organismo. Por isso, é importante manter as doses das drogas em níveis adequados.
"Essa técnica facilita a detecção da rejeição ainda em fase inicial, de forma que as doses das drogas possam ser aumentadas para evitar o problema", afirmou Silva Filho.

Fase inicial
Como o tratamento ainda está em fase inicial, ele recomenda que esse teste seja usado apenas para a triagem dos pacientes.
"Caso o exame for positivo, o paciente é encaminhado para a biopsia", disse o pesquisador.
No entanto, Silva Filho disse estar certo de que, no futuro, médicos terão uma confiança maior nesse exame, permitindo que ele assuma o papel da biopsia em pacientes que fazem acompanhamento após o transplante de rim.
"Em alguns anos, esse exame deverá fazer parte da rotina dos médicos que cuidam de pacientes transplantados", disse Silva Filho.
A Unifesp continua a estudar o assunto. Os pesquisadores do Laboratório de Imunologia Molecular estão procurando outros genes que participam do processo de rejeição na tentativa de aperfeiçoar essa técnica.
Silva Filho também indicou que é possível que esse exame seja realizado com amostras de urina. Dessa forma, disse ele, será possível eliminar totalmente procedimentos invasivos em pacientes transplantados.


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