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NEUROLOGIA
Cientista discute a consciência
Cérebro e corpo se unem em novo livro
DAVID CONCAR
da "New Scientist"
De onde vêm as emoções? Como as células tornam alguém
consciente? Se essas questões fossem propostas há uma década,
haveria poucos para respondê-las. Agora, as teorias se multiplicam à medida que os cientistas
desvendam o que pode ser uma
das últimas fronteiras da ciência.
Antonio Damasio é um deles.
Na Universidade de Iowa, nos
EUA, esse neurologista português
lidera uma equipe que trata e estuda pacientes com lesões cerebrais -que, devido a acidentes
ou doenças, perderam a capacidade de sentir medo, reconhecer
rostos ou se lembrar quem são.
E qual é a grande descoberta?
Com "The Feeling of What Happens" ("A sensação do que acontece", Harcourt Brace, 386 páginas, US$ 28), lançado nos EUA,
Damasio parte desses casos para
desenvolver uma teoria provocativa sobre a consciência, que coloca o corpo, em vez de somente o
cérebro, no centro da ação. Leia a
seguir trechos da entrevista com o
pesquisador.
Pergunta - Filósofos e místicos
já tentaram explicar a consciência. Como é que isso se tornou
cientificamente respeitável?
Antonio Damasio - Acho que os
desenvolvimentos recentes indicam que agora parece possível resolver o problema -ou pelo menos estudá-lo com bases científicas. Todos os avanços técnicos na
biologia na última década, combinados com novos métodos de
produzir imagens do cérebro, estimularam novas teorias.
Pergunta - Poderemos criar
um robô que tenha consciência?
Damasio - Formalmente, a resposta é sim. Mas a capacidade de
o robô perceber o mundo será como a nossa? De forma alguma. Isso porque o robô não opera com
tecidos vivos. Acredito que o nosso senso de consciência, de ter
nossos próprios pensamentos,
não vem só do cérebro, mas do fato de que temos um corpo.
Pergunta - No novo livro, o sr.
divide a idéia do "self" em três
elementos: o "proto self", o "self
do núcleo" e o "self autobiográfico". O que essa divisão me diz
sobre o que estou experimentando agora, sentado aqui nesse hotel, tomando chá?
Damasio - O seu "proto self" é a
coleção de mapas do cérebro que
representam o estado interno do
seu corpo, sua corrente sanguínea, o que ocorre no seu coração,
na sua postura e assim por diante.
Muito desse monitoramento é feito por estruturas ancestrais, que
evoluíram no cérebro.
O "proto self" é algo que você
não presta realmente atenção a
não ser que algo chame a sua
atenção no corpo -quando alguém derruba chá quente na sua
mão, por exemplo.
Pergunta - E o "self do núcleo", o que ele está fazendo?
Damasio - Uma vez que você foca um objeto, como eu conversando com você, esse objeto é representado em seu cérebro. E, por
sua vez, irá modificar fisicamente
a forma como você está. Por
exemplo, você me olha e posiciona a cabeça e o pescoço de forma a
construir uma percepção adequada de mim. Assim, o que você tem
na cabeça agora são duas representações -uma dos sistemas internos de seu corpo em um estado
de mudança e uma do objeto externo, ou seja, eu.
Além disso, eu sugiro que há
outro nível no cérebro em que essas representações confluem e seu
relacionamento é mapeado. Esse
é o início do seu "self do núcleo"
-um sentimento muito simples,
do aqui e agora, de que você existe
como um organismo.
Pergunta - O sr. afirma que a
consciência não é o cume da
evolução. Então o que é o auge?
Damasio - Todas as criações
que vêm da consciência -a moral, as religiões e leis, as artes e as
ciências- são o pico. Sem o senso do "self" e o senso do outro,
duvido que alguém poderia construir a ética como o fizemos.
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