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É o fim do mundo?
Miniburacos negros podem surgir num experimento em junho. Mas não é preciso ter medo, garantem os físicos
Tentativa de criar versão inofensiva de monstros cósmicos pode ajudar a unir teorias de Albert Einstein com as da física quântica
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde que foram concebidos
teoricamente, há quase cem
anos, buracos negros fascinam
os físicos por seu poder. Com
sua enorme força gravitacional,
são capazes de engolir tudo em
volta deles -até mesmo a luz-
e podem crescer indefinidamente à medida que vão sendo
"alimentados". Quando surgiu
a notícia de que um experimento perto de Genebra (Suíça) -o
acelerador de partículas LHC-
poderia criar um "miniburaco
negro", portanto, foi natural algumas pessoas se perguntarem: "Ele vai crescer e engolir a
Terra?". Físicos respeitáveis
que estudam buracos negros,
porém, são unânimes em responder um contundente "não".
"A melhor prova de que isso
não acontecerá é que, se buracos negros forem criados no
LHC, então na verdade eles já
estão sendo produzidos o tempo todo na atmosfera por colisões de raios cósmicos", disse à
Folha o físico Bernard Carr, da
Universidade de Londres, um
dos pioneiros no estudo de buracos negros de pequena escala.
"Se eles fossem mesmo perigosos, já teriam engolido a Terra
muito tempo tempo atrás."
Segundo o cientista, o que
acontecerá se um minúsculo
buraco negro surgir no acelerador de partículas, que deve começar a operar em junho, é sua
evaporação quase imediata.
Carr foi aluno de doutorado do
astrofísico Stephen Hawking,
da Universidade de Cambridge,
que postulou esse fenômeno
teoricamente. Até 1974, físicos
acreditavam que um buraco
negro jamais poderia diminuir
de tamanho, mas Hawking
mostrou que pode. Ele é um dos
que mais torce, aliás, para que
um miniburaco negro se forme
no LHC. "Se isso acontecer, então, por um processo que eu
descobri, o buraco negro irradiaria partículas e desapareceria. Se observarmos isso, um
novo campo se abriria na física,
e eu ganharia um prêmio Nobel", disse Hawking ao jornal
britânico "The Independent"
no começo da semana. "Mas eu
não estou apostando nisso."
A física de buracos negros
ainda é mal compreendida.
Teóricos se desdobram para
tentar entendê-los pois isso pode ajudar no grande desafio
atual da física: a unificação da
teoria da relatividade geral de
Einstein (que explica a gravidade) com a física quântica (que
explica as partículas elementares). Produzi-los no LHC seria
uma maneira de estudá-los diretamente pela primeira vez,
algo inestimável para os físicos.
"Mas, para que esses buracos
negros se formem numa colisão de partículas, existem muitos pré-requisitos", explica o
teórico George Matsas, do Instituto de Física Teórica da
Unesp, autor de um livro recém-lançado sobre sua especialidade ("Buracos Negros,
Rompendo os Limites da Ficção", editora Vieira e Lent).
"Para que um deles surja no
LHC é preciso que existam dimensões de espaço extra e que
que elas sejam "microscópicas",
de tamanho adequado. Não é
nada trivial", afirma.
Uma abordagem conhecida
entre os físicos, chamada teoria
das cordas, de fato prevê que o
espaço tenha mais do que as
três dimensões que conhecemos, mas apesar de ela ter consistência matemática, nenhuma evidência experimental foi
encontrada em seu favor até o
momento. Além disso, a teoria
das cordas, na verdade, tem várias diferentes versões, e só
uma delas prevê que o LHC
possa produzir buracos negros.
"De qualquer forma, é possível, em principio", diz Carr.
"Não sabemos se eles surgirão,
mas é justamente por isso que é
preciso tentar."
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