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Nova droga aciona "botão antipânico" no cérebro
Pesquisa abre caminho para a criação de ansiolíticos com menos efeitos colaterais
Estudo europeu foi feito
com número pequeno de
voluntários e com dose alta
do novo composto, mas
provou queda na ansiedade
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores da Europa podem ter descoberto como acionar um dispositivo antipânico
no cérebro. Após realizarem
testes em roedores e em 71 voluntários, eles mostraram que
um novo componente poderá,
no futuro, combater ataques de
pânico e ansiedade sem os efeitos colaterais dos remédios
mais usados hoje em dia.
A maioria das drogas contra
ansiedade age dosando a liberação e a absorção de neurotransmissores (moléculas que carregam impulsos químicos) em
certas áreas do cérebro.
Esses compostos, como os
benzodiazepínicos, são eficazes
contra a ansiedade, mas causam uma série de efeitos que
vão de sonolência a vício.
O componente testado pelos
pesquisadores, uma molécula
chamada XBD173, estimula a
atividade de uma proteína que
ajuda no transporte de moléculas de colesterol e permite que
algumas sejam convertidas em
um outro tipo de molécula, os
chamados neuroesteroides
-cujo nível cai no cérebro durante um ataque de pânico.
Estes, por sua vez, regulam o
efeito de uma molécula chamada GABA (ácido gama-aminobutírico), neurotransmissor relacionado ao relaxamento.
Para a realização do estudo,
os voluntários, saudáveis, eram
induzidos a ter ansiedade por
meio de um peptídeo (pedaço
de proteína) que leva a um sentimento breve de pânico.
"Há uma boa chance de que
funcione em pacientes com
ataques de pânico, mas isso ainda precisa ser testado", afirmou
à Folha o psiquiatra Rainer
Rupprecht, da Universidade
Ludwig Maximilians, em Munique, na Alemanha.
Segundo ele, a molécula foi
administrada oralmente aos
voluntários durante sete dias
seguidos. Eles foram divididos
em grupos: um recebia placebo, outro doses variadas de
XBD173 e o terceiro, a droga
contra ansiedade alprazolam.
Os voluntários que receberam
2 miligramas de alprazolam ou
a mais alta dose de XBD173 (90
miligramas) tiveram menos
ansiedade do que aqueles que
receberam o placebo.
O composto, ainda, causou
menos efeitos colaterais do que
o alprazolam. Quem foi tratado
com alprazolam, por exemplo,
teve uma acentuada redução da
atividade locomotora.
Abstinência e tolerância
Foram notadas diferenças
também após o tratamento.
"Enquanto 57% das pessoas
tratadas com alprazolam reclamaram de sintomas de abstinência, tais como distúrbios do
sono ou agitação, isso foi praticamente ausente nos voluntários tratados com XBD173",
afirma o artigo, na edição on-line do periódico "Science".
Outra questão relevante no
tratamento de ansiedade e ataques de pânico, além da avaliação dos efeitos colaterais e de
sintomas de abstinência, é o desenvolvimento de tolerância
aos remédios -a necessidade
de usar doses cada vez mais altas para ter o mesmo efeito.
Por isso, os pesquisadores
testaram a tolerância em animais. A molécula XBD173 foi
administrada duas vezes ao dia
por cinco dias nos roedores.
"Sua atividade ansiolítica
neste teste foi plenamente
mantida com esta administração", informa o artigo.
Para o neurocientista Sidarta
Ribeiro, diretor do Instituto Internacional de Neurociência de
Natal Edmond e Lily Safra, o
estudo é importante pela sua
potencial aplicação.
De acordo com Rupprecht, o
objetivo do grupo é dar continuidade à pesquisa com a realização de testes clínicos com
maior número de pessoas. Outra possibilidade, afirma, é
atuar no desenvolvimento de
compostos de ação similar à
molécula XBD173. "Isso depende do desenvolvimento dos planos industriais", diz.
Participaram da pesquisa
cientistas ligados à farmacêutica suíça Novartis.
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