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Após 40 anos, ida à Lua ainda gera ciência
Avanços na geologia permitem extrair novas informações das rochas lunares que revelaram a história do Sistema Solar
Cientista que estuda pedras colhidas por astronauta diz que amostras trazidas pela missões Apollo ocuparão geólogos por mais cem anos
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A efeméride que marca hoje
os 40 anos da primeira caminhada de um homem na Lua
tem gerado um bocado de discussão sobre o "custo-benefício" da missão Apollo-11, que
pousou em solo lunar em 20 de
julho de 1969. É difícil avaliar
agora o legado positivo de um
programa da época da Guerra
Fria cujo principal objetivo era
uma demonstração de poderio
tecnológico. Uma restrita classe de humanos, porém, nunca
questionou o valor da ida à Lua:
a dos geólogos e astrônomos.
Os 382 kg de pedras que os
astronautas do programa Apol-lo trouxeram à Terra forçaram
cientistas planetários a rever
seus conceitos iniciais sobre a
história do Sistema Solar. Sem
elas, o surgimento da própria
Terra -e da vida- não seria tão
bem compreendido quanto é. E
até hoje cientistas têm conseguido extrair informações das
rochas colhidas de 1969 a 1972.
É o caso do geólogo Alexander Nemchin, da Universidade
Curtin, de Perth (Austrália).
Num estudo publicado em janeiro deste ano na revista "Nature", Nemchin analisou rochas das missões Apollo para
estabelecer a data em que a Lua
tal qual a conhecemos surgiu:
4,417 bilhões de anos atrás.
O que permitiu medir a escala de tempo com essa precisão
foi uma técnica aprimorada por
Nemchin para datar finíssimos
grãos de zircão, mineral encontrado nas rochas trazidas pelos
astronautas. Segundo ele, o
avanço técnico da geologia ainda reserva mais surpresas.
"Essas amostras ainda vão
produzir novos resultados nos
próximos anos", disse Nemchin à Folha. "E talvez haja
material suficiente para nos
ocupar por mais cem anos."
Os estudos sobre zircão são
importantes porque ele é o registro mais antigo da superfície
sólida da Lua. Antes disso, o satélite natural da Terra era coberto por um oceano de lava,
fato que também só veio a ser
conhecido porque astronautas
trouxeram amostras de solo.
Segundo Nemchin, a cadeia
de estudos científicos desencadeada pelas missões Apollo é,
afinal, responsável por estabelecer a principal teoria sobre a
formação da Lua. Ela teria surgido de uma violenta colisão
com outro corpo celeste cerca
de 50 milhões de anos depois
de o Sistema Solar se formar.
Esse tipo de trombada cósmica só veio a cessar cerca de 4
bilhões de anos atrás, data em
que se formaram as últimas
grandes crateras lunares. A
energia para derreter a lava lunar, aliás, também vinha dessas
colisões, pois o interior da Lua
é geologicamente "morto".
Grandes choques também
aconteciam na Terra, mas só
estudos lunares com base nas
rochas trazidas pela Apollo puderam fornecer a datação, pois
a atividade geológica apagou os
registros terrestres. As primeiras evidências de vida na Terra,
aliás, só aparecem depois desse
período, sinal de que o chamado "bombardeio pesado" de colisões só teria acabado então.
"Muitas dessas ideias permanecem controversas, mas elas
nem existiriam sem as amostras de rochas lunares", diz
Nemchin. Segundo ele, este é
um motivo a mais para retornar à Lua. "Os pousos lunares
passados investigaram áreas
pequenas, e ainda se questiona
quão representativas elas são
para a Lua inteira. A Nasa tem
identificado áreas polares, agora, como as mais promissoras
em eventuais missões futuras."
O preço de uma missão tripulada à Lua, porém, ainda é
proibitivo. Não está claro se os
EUA vão bancar o programa
Constellation, da Nasa, da escala de dezenas de bilhões de
dólares. Também é incerto se
naves-robô serão capazes de
retornar com amostras da mesma qualidade em missões "baratas", da ordem de centenas
de milhões de dólares.
Randy Korotev, da Universidade Washington em St. Louis
(EUA), que estudou as rochas
colhidas pela Apollo 11, não parece otimista sobre a perspectiva de retorno agora. "Nós não
fomos até a Lua para catar rochas; o objetivo era mesmo político", diz. "Se nós, cientistas,
temos hoje essas amostras, é
porque somos sortudos."
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