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MEDICINA
Tratamento não teve verificação com animais
EUA iniciam testes para terapia genética contra mal de Parkinson
GINA KOLATA
DO "NEW YORK TIMES"
"Eu tenho a cabeça dura?"
-perguntou Nathan Klein. "Minha mulher sempre diz que eu
sou cabeça-dura." "Não, está na
média", disse o médico Michael
Kaplitt. "É uma das poucas situações em que a média é melhor."
Kaplitt acabara de abrir um buraco do tamanho de uma moeda
de 25 centavos no topo do crânio
de Klein, em preparação para um
experimento ambicioso: a infusão
no cérebro de 3,5 bilhões de partículas virais, cada uma carregando
uma cópia de um gene que deve
ajudar a suavizar os tremores e
outros movimentos anormais
causados pelo mal de Parkinson.
Anteontem, no Hospital Presbiteriano de Nova York, Klein, um
produtor de TV independente de
55 anos, se tornou a primeira pessoa a se submeter a terapia genética para Parkinson. Apesar da
sombria história dos experimentos em geneterapia, a FDA [agência que regula alimentos e medicamentos nos EUA] autorizou o
procedimento para 12 pessoas
com mal de Parkinson avançado.
O experimento faz parte de um
teste de fase 1, que tem por meta
determinar a segurança, não a eficácia. Mas claro que os pesquisadores e voluntários também esperam ver sinais de que o tratamento funciona. Isso deve ficar claro
em três meses, diz Kaplitt.
"Minha meta não é tentar curar
Parkinson", afirmou o pesquisador. "É fornecer um melhor tratamento sobre o qual possamos nos
apoiar para o próximo avanço."
Riscos inerentes
Alguns especialistas em geneterapia e mal de Parkinson expressaram preocupação. Eles disseram que o experimento estava indo adiante sem evidência em macacos de que poderia funcionar e
que tinha a possibilidade de causar danos -vírus se espalhando
pelo cérebro, ou células tratadas
liberando enormes quantidades
de proteína que impedissem os
neurônios de disparar.
"Esse é um experimento maluco", disse C. Walter Olanow, professor e chefe do departamento de
neurologia da Escola de Medicina
Mount Sinai. Numa entrevista antes da operação, Klein disse que
foi totalmente informado dos riscos potenciais. "Espero que faça
algo. Se vai ficar 10% melhor,
25%, 50% ou mais, eu espero que
funcione", disse. "Mas eu sou o
primeiro e sou o macaco deles."
O mal de Parkinson é mais conhecido por seus tremores, mas
há outros sintomas tão problemáticos, ou até mais. As pessoas
muitas vezes não conseguem se
mover, ou caminham em passos
muito lentos, que algumas vezes
aceleram fora de seu controle. Alguns portadores desenvolvem
problemas cognitivos e demência.
A doença ocorre porque células
nervosas morrem numa região do
cérebro chamada "substância negra", o que leva a uma falta de dopamina, um mensageiro químico
que leva sinais às várias áreas cerebrais ligadas ao movimento.
Remédios podem ajudar a controlar os movimentos anormais
durante um certo tempo. O mais
conhecido, L-dopa, se transforma
em dopamina no corpo. Mas todas as drogas têm efeitos colaterais. Klein, que teve Parkinson
por dez anos e tentou de oito a dez
drogas, sofria de prisão de ventre,
sobrepeso, insônia, boca seca e fadiga. Outros pacientes desenvolvem desordens de movimento
com a L-dopa. E, com o tempo, as
drogas podem perder seu efeito.
Cirurgias para destruir pedaços
do cérebro que iniciam os tremores podem ajudar, mas têm riscos.
Implantes de células fetais ajudaram alguns pacientes, mas levaram a problemas graves em outros. Estimuladores cerebrais profundos tiveram resultados promissores. Mas implantes apresentam o risco de infecção, e aparelhos podem falhar.
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