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São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

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MEDICINA

Tratamento não teve verificação com animais

EUA iniciam testes para terapia genética contra mal de Parkinson

GINA KOLATA
DO "NEW YORK TIMES"

"Eu tenho a cabeça dura?" -perguntou Nathan Klein. "Minha mulher sempre diz que eu sou cabeça-dura." "Não, está na média", disse o médico Michael Kaplitt. "É uma das poucas situações em que a média é melhor."
Kaplitt acabara de abrir um buraco do tamanho de uma moeda de 25 centavos no topo do crânio de Klein, em preparação para um experimento ambicioso: a infusão no cérebro de 3,5 bilhões de partículas virais, cada uma carregando uma cópia de um gene que deve ajudar a suavizar os tremores e outros movimentos anormais causados pelo mal de Parkinson.
Anteontem, no Hospital Presbiteriano de Nova York, Klein, um produtor de TV independente de 55 anos, se tornou a primeira pessoa a se submeter a terapia genética para Parkinson. Apesar da sombria história dos experimentos em geneterapia, a FDA [agência que regula alimentos e medicamentos nos EUA] autorizou o procedimento para 12 pessoas com mal de Parkinson avançado.
O experimento faz parte de um teste de fase 1, que tem por meta determinar a segurança, não a eficácia. Mas claro que os pesquisadores e voluntários também esperam ver sinais de que o tratamento funciona. Isso deve ficar claro em três meses, diz Kaplitt.
"Minha meta não é tentar curar Parkinson", afirmou o pesquisador. "É fornecer um melhor tratamento sobre o qual possamos nos apoiar para o próximo avanço."

Riscos inerentes
Alguns especialistas em geneterapia e mal de Parkinson expressaram preocupação. Eles disseram que o experimento estava indo adiante sem evidência em macacos de que poderia funcionar e que tinha a possibilidade de causar danos -vírus se espalhando pelo cérebro, ou células tratadas liberando enormes quantidades de proteína que impedissem os neurônios de disparar.
"Esse é um experimento maluco", disse C. Walter Olanow, professor e chefe do departamento de neurologia da Escola de Medicina Mount Sinai. Numa entrevista antes da operação, Klein disse que foi totalmente informado dos riscos potenciais. "Espero que faça algo. Se vai ficar 10% melhor, 25%, 50% ou mais, eu espero que funcione", disse. "Mas eu sou o primeiro e sou o macaco deles."
O mal de Parkinson é mais conhecido por seus tremores, mas há outros sintomas tão problemáticos, ou até mais. As pessoas muitas vezes não conseguem se mover, ou caminham em passos muito lentos, que algumas vezes aceleram fora de seu controle. Alguns portadores desenvolvem problemas cognitivos e demência.
A doença ocorre porque células nervosas morrem numa região do cérebro chamada "substância negra", o que leva a uma falta de dopamina, um mensageiro químico que leva sinais às várias áreas cerebrais ligadas ao movimento.
Remédios podem ajudar a controlar os movimentos anormais durante um certo tempo. O mais conhecido, L-dopa, se transforma em dopamina no corpo. Mas todas as drogas têm efeitos colaterais. Klein, que teve Parkinson por dez anos e tentou de oito a dez drogas, sofria de prisão de ventre, sobrepeso, insônia, boca seca e fadiga. Outros pacientes desenvolvem desordens de movimento com a L-dopa. E, com o tempo, as drogas podem perder seu efeito.
Cirurgias para destruir pedaços do cérebro que iniciam os tremores podem ajudar, mas têm riscos. Implantes de células fetais ajudaram alguns pacientes, mas levaram a problemas graves em outros. Estimuladores cerebrais profundos tiveram resultados promissores. Mas implantes apresentam o risco de infecção, e aparelhos podem falhar.


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