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Metade das línguas corre risco de sumir
Estimativa é de levantamento feito por lingüistas americanos; Rondônia integra uma das cinco regiões mais críticas
Projeto financiado pela
National Geographic, no
entanto, subestimou o
número de idiomas nativos
sob alto risco na Amazônia
GIOVANA GIRARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Metade das cerca de 7 mil línguas faladas hoje em todo o
mundo deve sumir até o final
do século, em alguns casos à velocidade aproximada de uma
extinção a cada 14 dias. A estimativa catastrófica é resultado
de uma investigação financiada
pela National Geographic Society, que apontou as cinco regiões do planeta onde há mais
línguas ameaçadas de extinção.
Um dos "hotspots" inclui o Estado de Rondônia.
"As línguas estão passando
por uma crise global de extinção, que excede enormemente
o ritmo das extinções de espécies", declarou o lingüista David Harrison, do Instituto Línguas Vivas, na terça-feira.
Ele e seu colega Gregory Anderson viajaram pelo mundo
inteiro ao longo de quatro anos
para entrevistar e gravar os últimos falantes de algumas das
línguas mais ameaçadas. Após
o levantamento (os dados completos estão em www.languagehotspots.org) eles perceberam que as regiões mais críticas são Sibéria oriental, norte
da Austrália, centro da América do Sul, Oklahoma e litoral
noroeste do Pacífico nos EUA e
Canadá. "Estamos vendo na
frente dos nossos olhos a erosão da base do conhecimento
humano", disse Harrison.
O sumiço das línguas têm
ocorrido tanto por morte das
pequenas populações que ainda as falam quanto pelo simples desuso das línguas. Elas
não são passadas para as novas
gerações, que falam apenas a
língua mais comum no país, como português, no Brasil, e toda
a cultura daquele povo acaba ficando restrita aos mais velhos
da tribo. Quando eles morrerem, o conhecimento dessa população morrerá junto.
"Oitenta porcento das espécies do mundo ainda não foram
descobertas pela ciência, mas
não significa que elas sejam
desconhecidas dos humanos",
lembra Harrison. Com a perda
da língua, diz ele, estão sendo
jogados fora séculos de descobertas feitas pela humanidade.
O país mais crítico é a Austrália. Das 231 línguas aborígenes existentes, 153 estão em
risco muito alto. No norte do
país os pesquisadores acharam
um único falante de amurdag,
língua já considerada extinta.
"Esta é provavelmente uma
língua que não vai voltar, mas
pelo menos fizemos uma gravação dela", conta Anderson.
Risco Brasil
Pelo levantamento feito pela
National Geographic, as línguas de povos que vivem em
Rondônia apresentam um nível de risco muito alto de sumir,
enquanto as línguas faladas por
populações indígenas do centro-sul do Brasil estão em alto
risco. Lingüistas que estudam o
problema no país, no entanto,
acreditam que a situação aqui é
bem pior que a demonstrada
por Harrison e Anderson.
A dupla considera, por exemplo, que o wayoró é falado por
cerca de 80 pessoas em Rondônia. Segundo Denny Moore, do
Museu Emílio Goeldi, são menos de dez os falantes.
Outros povos nem chegaram
a figurar entre os de língua mais
ameaçada pelos americanos.
Um caso é dos canauê, também
de Rondônia, cuja língua é falada por oito pessoas.
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