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Flora ameaçada racha governo e biólogos
Ministério divulga lista com 472 espécies de planta sob risco; fundação que elabora a lista contesta e diz que são 1.495
Para ministro Carlos Minc,
incluir mais de mil espécies
que ficaram fora "vulgariza"
documento; para cientista,
lista do governo é "política"
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
O Ministério do Meio Ambiente divulgou ontem a lista
das espécies da flora brasileira
ameaçadas de extinção. São
472 espécies, mais do que o
quádruplo da lista anterior, de
1992, que tinha 108.
O ministério apresentou outra lista com 1.079 espécies
com "deficiência de dados", cujas informações são insuficientes para confirmar o risco.
A Fundação Biodiversitas,
instituição sediada em Minas
Gerais e contratada para fazer a
pesquisa e à qual é atribuída pelo ministério a elaboração da
lista, porém, contestou o documento oficial e informou que
há 1.495 espécies ameaçadas na
lista entregue por eles ao governo há quase três anos, em dezembro de 2005.
De acordo com a coordenadora do projeto e da fundação,
Gláucia Drummond, o documento apresentado "é político", "não reflete a situação das
espécies" e deixa de proteger
muitas em "situação crítica".
Segundo o ministério, o aumento da lista se deve à maior
agressão ao ambiente -favelização, queimadas, contaminação de áreas e especulação imobiliária, por exemplo- e aos
avanços da ciência, com crescimento da pesquisa e novos dados sobre várias espécies.
A região Sudeste é a que tem
o maior número de espécies
sob ameaça, com 74% do total,
mais do que o dobro do Nordeste, a segunda região.
Isto se deve, de acordo com o
ministério, ao fato de se tratar
de alguns dos Estados mais populosos, urbanizados e industrializados do país, o que leva à
maior degradação ambiental e
põe em risco a vegetação e a flora nativas.
O bioma mata atlântica, como esperado, é o que tem o
maior número de espécies na
lista elaborada. Das 472 do total, 276 ocorrem na mata atlântica, 131 no cerrado, 46 na caatinga, 24 na Amazônia, 17 no
pampa e duas no Pantanal -há
espécies que ocorrem em mais
de uma região do país.
O ministro Carlos Minc afirmou que pretende criar novas
unidades de conservação, combater os crimes ambientais e
estimular iniciativas de reflorestamento com espécies
ameaçadas em seus ambientes
nativos.
Entre as espécies ameaçadas
estão o palmito jussara, o pau-brasil, o jequitibá, a castanheira
e o mogno. De acordo com
Minc, há uma série de restrições mais rígidas para corte,
transporte e venda dessas espécies ou produtos advindos de
sua utilização.
O desrespeito constitui crime ambiental, que tem como
pena multas e até a prisão por
cinco anos, no caso de dano direto ou indireto às unidades de
conservação, por exemplo.
Para o ministro Carlos Minc,
a "polêmica" sobre os números
das listas é "saudável".
"Houve uma decisão de que
não há informação suficiente
para afirmar se estão ou não
ameaçadas. O Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio
e uma rede de cientistas vão se
dedicar a passar a limpo as mais
de mil para dizer quais estão
ameaçadas", afirmou Minc.
O ministro também usou a
falta de estrutura do ministério
como argumento. "Eu me pergunto se temos capacidade de
fiscalizar essas 472 espécies.
Incluir mais mil é, aparentemente, mais defensivo, mas
vulgariza e cria um número que
não teremos condições de fiscalizar", disse.
A Fundação Biodiversitas
contestou. "Nossa avaliação é
biológica, não é política. O ministério tem uma lista política;
nós, uma científica", afirmou
Gláucia Drummond, que disse
lamentar a divulgação da lista e
a "falta de diálogo" com o ministério.
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