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AIDS
Formulação desenvolvida nos EUA combate vírus depois da infecção; ainda não há previsão de testes em seres humanos
Vacina de DNA controla HIV em macacos
ISABEL GERHARDT
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisa feita com macacos nos
Estados Unidos revela que, com
relação à Aids, uma vacina de
DNA pode não ter papel preventivo, mas poderá se tornar um importante auxiliar no tratamento e
no controle da epidemia. No estudo da Escola Médica de Harvard
(EUA), os macacos que receberam a vacina permaneceram saudáveis depois de serem inoculados com o vírus HIV.
Não há previsão de quando essa
vacina será testada em humanos.
O trabalho sai hoje na revista
"Science" (www.sciencemag.org).
"Embora a vacina não previna a
infecção (pois existe um crescimento do número de partículas
virais após a contaminação), ela
controla a replicação do vírus e
evita a imunodeficiência, a progressão da doença e a morte", disse à Folha Dan Barouch, o principal autor da pesquisa.
Os animais vacinados apresentaram níveis indetectáveis ou
muito baixos do vírus, quando
expostos a ele. Em compensação,
metade dos animais que receberam uma vacina placebo (inócua,
ou seja, sem o DNA) morreu após
140 dias da infecção com o vírus.
A outra metade encontrava-se
doente, com um número elevado
de partículas virais.
A estratégia utilizada pelos cientistas envolveu, na verdade, três
vacinas de DNA. Uma delas continha o gene que codifica uma
proteína da capa do HIV. A outra,
o gene de uma outra proteína da
capa do SIV ("primo" do HIV,
mas que só ataca macacos). E a última delas, o gene de uma proteína que estimula a produção de células de defesa do organismo.
Tantas vacinas têm várias razões de ser. Uma delas é que os
cientistas, após vacinarem os animais, tinham de desafiá-los com
um vírus quimérico, ou seja, um
composto de HIV e SIV. A mistura se justifica porque o HIV não
provoca a doença em macacos.
Quem causa a moléstia é o SIV.
Modelo para o homem
Com esse expediente de incluir
elementos de ambos os vírus na
vacina, os cientistas tiveram por
objetivo provocar a doença e, ao
mesmo tempo, obter um modelo
o mais semelhante possível ao do
ser humano (ou seja, uma infecção pelo HIV).
A adição da terceira vacina, com
o gene da interleucina-2, é "uma
engenhoca muito bem-feita", segundo o médico Esper Kallás, do
Laboratório de Imunologia do
Departamento de Medicina da
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo).
Ao ser incorporado pela célula,
o gene da interleucina-2 ordena a
produção da substância. Isso faz
com que proliferem os linfócitos
T (tipo de célula responsável pela
destruição de células infectadas
com o vírus) que estejam perto da
célula transformada. "Com isso,
aumenta o número de células capazes de reconhecer aquelas que
contêm o vírus, aumentando a capacidade de resposta do organismo", explica Kallás.
"O efeito que eles tiveram nesse
estudo é brilhante. Esse é um dos
estudos que teve melhor imunogenicidade e proteção contra a infecção", diz o brasileiro.
Segundo Robert Siliciano, pesquisador da Universidade Johns
Hopkins (EUA) que comenta o
trabalho de Barouch na "Science", uma vacina desse tipo, se no
futuro for utilizada em seres humanos, poderá controlar tão bem
a contagem de partículas do HIV
quanto o uso de antivirais
-"com a vantagem de não apresentar os efeitos colaterais dessas
drogas e ser muito mais barata",
afirma Siliciano.
"Nos países de Terceiro Mundo,
onde não existem condições de
tratamento para toda a população, a vacina será um fator de controle da expansão da epidemia."
Em 1999, cerca de 5,4 milhões de
pessoas foram infectadas com o
HIV e 2,8 milhões morreram de
Aids, segundo a OMS.
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