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Watson foi censurado, diz chinês
Cientista que estuda relação entre genes e inteligência defende Nobel que deu declaração racista
Segundo Bruce Lahn, da Universidade de Chicago, descobridor do DNA foi
apenas insensível em sua fala sobre os africanos
MARCOS STRECKER
DA REDAÇÃO
Bruce Lahn, um dos principais estudiosos da relação entre genes e inteligência, defende o colega James Watson das
acusações de racismo. Para o
geneticista da Universidade de
Chicago, as recentes declarações de Watson foram apenas
insensíveis: "Quando se trata
de ciência relacionada a diferenças raciais, é impossível ser
puramente "científico'", disse.
Lahn diz que "não há dúvida"
de que genes podem ser ligados
à inteligência e reafirma que há
estudos mostrando em grupos
africanos um desempenho inferior em testes cognitivos como o QI. "É possível que cor de
pele e inteligência estejam ligados, mas de maneira indireta e
não-causal", disse.
Lahn, chinês que emigrou
para os EUA em 1988, já passou
pela Universidade Harvard e
pelo Instituto de Tecnologia de
Massachusetts. Em 2005, havia
publicado artigos polêmicos no
periódico "Science" defendendo que africanos e leste-asiáticos têm incidência mais baixa
de dois genes relacionados à inteligência, o ASPM e o MCPH1.
Mesmo assim, evitou referendar as opiniões do colega: "Não
quero tomar uma posição sobre
o assunto, sobretudo em razão
da delicadeza do tema", disse.
Lahn criticou o cancelamento da apresentação de Watson
nesta semana no Museu de
Ciências de Londres: "foi uma
censura".
FOLHA - O sr. concorda com a declaração de Watson ao "The Sunday
Times"? ("Todas as nossas políticas
sociais são baseadas no fato de que
a inteligência deles [negros] é igual
à nossa -quando todos os testes dizem que não é bem assim.")
BRUCE LAHN - A palavra "todas"
é claramente muito forte. A
despeito de raça, nossa sociedade tem uma pletora de mecanismos de seleção para pessoas
inteligentes assumirem posições adequadas (exames, promoções, eleições etc.). Eu concordaria, porém, que algumas
políticas ignoram a possibilidade de que a inteligência pode
diferir entre indivíduos e grupos de pessoas. Essas políticas,
com freqüência, têm boas intenções. Se elas têm bons resultados, é algo discutível.
FOLHA - Watson pode ser rotulado
de racista?
LAHN - Acho que não. Para
mim, um racista é alguém que
menospreza um grupo racial
unicamente por causa da identidade racial do grupo em si.
Não sinto que Watson esteja fazendo isso neste caso. Contudo,
ele certamente parece insensível em seus comentários. Ele
poderia ter externado sua opinião de modo muito mais sensível. Quando se trata de ciência relacionada a diferenças raciais, é impossível ser puramente "científico". É preciso
levar em conta o sentimento
das pessoas para a discussão
não se degenerar em uma diatribe emocional.
FOLHA - As declarações de Watson
têm base científica? Ele é uma autoridade nesse assunto, em particular?
LAHN - Não sei o quanto ele estudou esse assunto. Contudo, a
questão sobre se há diferenças
biológicas inatas (incluindo as
cognitivas) entre grupos raciais
e quão grandes elas são tem sido um tópico de estudo legítimo (apesar de sensível) por
muito anos. Há de fato muitos
estudos mostrando desempenho inferior de certos grupos
(incluindo pessoas de origem
africana subsaariana) em relação a outros grupos em testes
cognitivos, como o QI. A causa
disso está sendo debatida, e algumas pessoas argumentam
que há uma base genética nisso,
em certa medida. Não estou
muito atualizado com a literatura sobre isso, então não quero tomar uma posição sobre o
assunto, sobretudo em razão da
delicadeza do tema.
FOLHA - Genes podem ser ligados à
inteligência? Cor de pele e genótipo
podem ser ligados à inteligência?
LAHN - Não há dúvida de que
genes podem ser ligados à inteligência, assim como genes podem ser ligados à cor da pele.
Nesse sentido, é possível que
cor da pele e inteligência estejam ligados, mas de maneira indireta e não-causal.
FOLHA - O Brasil tem uma população diversa e miscigenada. Como ela
se encaixaria nas opiniões externadas por Watson?
LAHN - Pessoalmente, eu acolho a visão não-comprovada de
que a diversidade é provavelmente a melhor condição. É difícil para mim imaginar que um
grupo racial seja bom em tudo.
Ter uma mistura fornece tanto
riqueza quanto adaptação para
diferentes trabalhos. Além disso, a mistura genética de vários
grupos pode produzir novas
formas genéticas que nunca
existiram antes, o que seria
uma fonte de inovação evolutiva. Watson não tocou nesse assunto, apesar de também não
tê-lo negado.
FOLHA - O Museu de Ciências de
Londres agiu corretamente ao cancelar uma palestra de Watson?
LAHN - Pessoalmente, acho
que isso é censura. Imagino que
o museu estivesse preocupado
sobre como eles seriam recebidos pelo público se tivessem
autorizado Watson a falar.
FOLHA - Outras declarações de
Watson feitas anteriormente podem ser consideradas antiéticas?
("negros têm libido acentuada" ou
"mulheres deveriam poder abortar
fetos homossexuais".)
LAHN - Não sinto que o conteúdo dessas declarações tenha
cruzado a fronteira da ética,
apesar de, como eu já disse, ele
ter um jeito muito brusco de dizer as coisas.
FOLHA - Até que ponto pesquisadores podem especular sobre assuntos delicados que envolvem questões políticas e sociais?
LAHN - Acho que isso é parte de
como se obtém o progresso. Se
ninguém mexesse com os tabus, nós ainda estaríamos
achando que o Sol gira em torno da Terra.
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