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Cana ameaça a Amazônia, afirma integrante do IPCC
Climatologista Carlos Nobre defende zoneamento especial para novas plantações
Cientista do Inpe se declara favorável a uma meta de desmatamento zero e diz que Nobel para painel da ONU foi derrota de Bush
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS
O climatologista e membro
do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) Carlos Nobre, que integrou a equipe de 600 cientistas
de todo o mundo premiada
com o prêmio Nobel da Paz pelo relatório sobre mudanças climáticas globais, disse ontem
em Campinas (95 km de SP)
que a expansão do plantio da
cana-de-açúcar é uma ameaça à
Amazônia.
Ele defendeu um zoneamento nacional para este tipo de
agricultura. "[A cana] É potencialmente uma ameaça. Tem de
ter um zoneamento nacional. O
que os estudos indicam é que a
vocação da Amazônia não é
propícia para o plantio da cana", disse ele.
O climatologista disse também que defende a tendência
de desmatamento zero na
Amazônia. Para ele, há muitas
áreas já destruídas e que estão
abandonadas, podendo servir
para uso da agricultura ou da
pecuária.
"Sou a favor da tendência ao
desmamamento zero, porque
não é necessário desmatar",
disse. "O desmatamento está
alicerçado numa lógica muito
fortemente embasada na ilegalidade. É uma indústria da ilegalidade e tem dinheiro envolvido", afirmou.
"Não tem sentido você expandir a fronteira agrícola antes de dar melhor uso para as
áreas já desmatadas. Boa parte
das áreas desmatadas terão de
ser recuperadas."
Bush
Nobre afirmou que o reconhecimento do relatório que
deu o prêmio à equipe -dividido com o ex-vice-presidente
norte-americano Al Gore- representou uma derrota para o
presidente norte-americano
George W. Bush.
"A derrota do Bush foi a contundência do relatório e o fato
de que ele [Bush] teve que se
vergar ao relatório. Ele teve que
mudar o discurso por causa do
relatório. Ele não mudou fundamentalmente. Ele mudou só
o discurso", disse o cientista,
que já foi chefe do CPTEC
(Centro de Previsão do Tempo
e Estudos Climáticos) do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Reconhecimento
"O prêmio Nobel ajuda para
que haja um grande reconhecimento de que essas conclusões
são sérias e que ele [relatório do
IPCC] nocauteia os céticos",
disse Nobre, antes de iniciar
uma palestra sobre mudanças
climáticas no país. O IPCC é
um órgão da ONU (Organização das Nações Unidas) responsável por pesquisas sobre
mudanças climáticas.
"O presidente Bush criticou
demais o IPCC e a premiação
vem resgatar uma credibilidade do processo, que tem um
método transparente e único",
afirmou. "Não é mais proibido
dizer, no governo americano,
que são sim as ações humanas
que são as responsáveis pela
maior parte do aumento do
aquecimento global."
Irreversível
Para Nobre, as mudanças climáticas pelas quais passa o
mundo são irreversíveis. "Os
gases que nós já colocamos na
atmosfera vão permanecer na
atmosfera por milênios. O impacto já foi dado pelo que já fizemos. Todo mundo tem que
entender que este é um problema que não tem mais conserto.
Não dá mais para reverter o
aquecimento global. O que nós
fazemos é lutar para minimizar
o impacto."
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