São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2007

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Grupo usa neurotransmissor e mexilhão para criar supercola

Produto imitou habilidade de molusco para grudar em superfície úmida

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma semana depois de cientistas indianos terem anunciado a criação de um adesivo imitando a capacidade de aderência da pata de lagartixas e pererecas, uma equipe nos EUA divulga agora uma supercola imitando a forte habilidade de grudar dos mexilhões.
A pesquisa traz ainda outra surpresa: o adesivo é feito à base de dopamina, uma substância neurotransmissora -isto é, produzida no cérebro e com papel na transmissão de impulsos entre as células nervosas. Ela costuma ser associada à área de "prazer" do cérebro humano, pois é liberada por meio de experiências agradáveis -como fazer sexo ou comer.
Certos organismos marinhos, como os mexilhões e as cracas, têm notáveis capacidades de aderência em superfícies bem diferentes. São, portanto, candidatos ideais para estudos de "biomimetismo" na área de ciência de materiais.
Segundo os autores do estudo, publicado ontem na revista "Science", apesar de métodos para modificação química da superfície de materiais serem vitais em áreas de ciência e tecnologia, fontes de novas substâncias achadas na natureza incluem vários métodos com limitações para uso prático.
Umas envolvem instrumentos complexos, outras requerem reações químicas complexas e precisas, ainda outras dependem de vários procedimentos e podem ter limitações de tamanho e forma do material.
O novo processo envolve um simples "banho" do material numa solução aquosa de dopamina e foi desenvolvido -e patenteado- por pesquisadores da Universidade Northwestern, de Illinois (EUA), chefiados por Phillip Messersmith.
"Acredito que as primeiras aplicações dessa tecnologia serão na deposição de camadas de metal em filmes poliméricos para mostradores eletrônicos flexíveis, ou para a aplicação de camadas biorresistentes em coisas como aparelhos médicos e estruturas marítimas como cascos de navios e plataformas de petróleo", disse Messersmith em entrevista à Folha.
Ou seja, a idéia é grudar dois materiais -orgânicos ou inorgânicos-, mas também impedir que os próprios mexilhões e cracas grudem onde não se quer, como o casco dos navios.
Segundo Messersmith e colegas relataram no artigo na revista, "estratégias simples e versáteis para a modificação de superfície de classes múltiplas de materiais têm se mostrado um desafio, e poucos métodos gerais para obter isso foram previamente relatados. Nosso enfoque é inspirado nas proteínas adesivas secretadas por mexilhões para aderência a superfícies molhadas".
Os cientistas partiram de uma substância "precursora" da dopamina isto é, de onde ela é derivada-, a levodopa. Criaram então uma solução aquosa da dopamina com acidez semelhante à do mar. Depois, banharam amostras de metal e cerâmica na solução e, em todos os casos, houve a adesão de uma fina camada sobre elas.


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