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Grupo usa neurotransmissor e mexilhão para criar supercola
Produto imitou habilidade de molusco para grudar em superfície úmida
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma semana depois de cientistas indianos terem anunciado a criação de um adesivo imitando a capacidade de aderência da pata de lagartixas e pererecas, uma equipe nos EUA divulga agora uma supercola imitando a forte habilidade de grudar dos mexilhões.
A pesquisa traz ainda outra
surpresa: o adesivo é feito à base de dopamina, uma substância neurotransmissora -isto é,
produzida no cérebro e com papel na transmissão de impulsos
entre as células nervosas. Ela
costuma ser associada à área de
"prazer" do cérebro humano,
pois é liberada por meio de experiências agradáveis -como
fazer sexo ou comer.
Certos organismos marinhos, como os mexilhões e as
cracas, têm notáveis capacidades de aderência em superfícies
bem diferentes. São, portanto,
candidatos ideais para estudos
de "biomimetismo" na área de
ciência de materiais.
Segundo os autores do estudo, publicado ontem na revista
"Science", apesar de métodos
para modificação química da
superfície de materiais serem
vitais em áreas de ciência e tecnologia, fontes de novas substâncias achadas na natureza incluem vários métodos com limitações para uso prático.
Umas envolvem instrumentos complexos, outras requerem reações químicas complexas e precisas, ainda outras dependem de vários procedimentos e podem ter limitações de
tamanho e forma do material.
O novo processo envolve um
simples "banho" do material
numa solução aquosa de dopamina e foi desenvolvido -e patenteado- por pesquisadores
da Universidade Northwestern, de Illinois (EUA), chefiados por Phillip Messersmith.
"Acredito que as primeiras
aplicações dessa tecnologia serão na deposição de camadas de
metal em filmes poliméricos
para mostradores eletrônicos
flexíveis, ou para a aplicação de
camadas biorresistentes em
coisas como aparelhos médicos
e estruturas marítimas como
cascos de navios e plataformas
de petróleo", disse Messersmith em entrevista à Folha.
Ou seja, a idéia é grudar dois
materiais -orgânicos ou inorgânicos-, mas também impedir que os próprios mexilhões e
cracas grudem onde não se
quer, como o casco dos navios.
Segundo Messersmith e colegas relataram no artigo na revista, "estratégias simples e
versáteis para a modificação de
superfície de classes múltiplas
de materiais têm se mostrado
um desafio, e poucos métodos
gerais para obter isso foram
previamente relatados. Nosso
enfoque é inspirado nas proteínas adesivas secretadas por
mexilhões para aderência a superfícies molhadas".
Os cientistas partiram de
uma substância "precursora"
da dopamina isto é, de onde ela
é derivada-, a levodopa. Criaram então uma solução aquosa
da dopamina com acidez semelhante à do mar. Depois, banharam amostras de metal e
cerâmica na solução e, em todos os casos, houve a adesão de
uma fina camada sobre elas.
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