São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 2006

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Gene é que determina se mosca vai brigar como macho ou fêmea

Estudo feito com drosófilas acrescenta conhecimento à biologia da agressão

DA REPORTAGEM LOCAL

A diferença no comportamento sexual das drosófilas, quando elas partem para a briga, é regulado por um único gene, que manda informações diferentes para os neurônios do bicho, mostra estudo publicado ontem na versão eletrônica da revista científica "Nature Neuroscience". Tudo vai depender, no caso dos padrões usados nas lutas, se quem estiver em ação é o sistema neurológico de um macho ou de uma fêmea, que pode ser até diferente do sexo do animal em questão.
Um time de pesquisadores formado por membros da Escola Médica de Harvard, dos Estados Unidos, e do Instituto de Patologia Molecular de Viena, na Áustria, descobriu que a biologia da agressão, no caso das drosófilas, é totalmente regulada pelo gene "fruitless" (infrutífero, em inglês).
Nos experimentos desenhados pelos pesquisadores, o gene dos machos foram trocados com os das fêmeas. Quando colocados para brigar, machos com o gene feminino apresentaram o comportamento padrão observado nas fêmeas.
Ou seja, eles usaram táticas não usuais para machos de verdade. O que significa se comportar como um touro bravo na arena. Apoiar-se nas patas da frente e inclinar a cabeça em direção ao oponente. Essa prática foi adotada exatamente pelas fêmeas, quando os pesquisadores introduziram nelas o gene encontrado normalmente nos neurônios dos machos.

Modelo agressivo
Com a descoberta desse modelo animal, explica Edward Kravitz, um dos autores do trabalho, em comunicado da Escola Médica de Harvard, será mais fácil entender o comportamento agressivo não apenas das drosófilas.
"Agressão é um problema muito sério na sociedade. Ele tem componentes biológicos e também genéticos. Nós precisamos entender isso para outros grupos também, não tenho dúvidas agora de que o modelo das drosófilas é o melhor para fazermos isso", disse.
O modelo de agressividade das drosófilas é apenas parte das estratégias de pesquisas futuras do grupo. Outras possibilidades que já estão sendo investigadas são estudar o comportamento do sono e também de como os animais respondem ao estímulo da dor.
Além das vantagens genéticas encontradas nas moscas, os pesquisadores garantem que em muitos dos casos as respostas científicas encontradas nas pesquisas com as drosófilas são muito parecidas com as observadas entre os humanos.
Para os autores do estudo, as descobertas obtidas por eles agora formam uma ponte bastante rígida entre os estudos dos sistemas neurológicos do comportamento e as modernas pesquisas que também estão sendo realizadas no campo da biologia molecular.
Essa não é a primeira vez que o gene "fruitless" aparece com destaque em um estudo científico. Ele, que é encontrado exclusivamente no sistema nervoso das moscas, já havia também sido classificado como o responsável pelo comportamento da corte sexual.
Quando ele é desligado, os machos ficam totalmente incapazes de chamar a atenção das fêmeas. No sentido contrário, quando introduzidos nas moscas do sexo feminino, essas passaram a fazer normalmente o ritual da corte.


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