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NEUROLOGIA
Estudo na Suiça conclui que a faculdade mais afetada é a de lembrar informações antigas
Hormônio do estresse prejudica memória
ISABEL GERHARDT
da Reportagem Local
A frase repetida tantas vezes por
alunos após sair de uma prova
-"Não sei o que aconteceu, na
hora H me deu um branco"- pode soar como desculpa para muitos educadores. No entanto, segundo estudo publicado no número de abril da revista "Nature
Neuroscience", o estresse realmente pode fazer com que a memória seja prejudicada.
Segundo esse estudo, o culpado
é o cortisol, hormônio secretado
pelas glândulas supra-renais, em
resposta a situações de estresse.
Cientistas identificaram três diferentes fases da memória: aquisição, consolidação e recuperação.
A aquisição é o passo inicial para formação de uma nova memória. A consolidação é necessária
para a memória de longo prazo.
Quando essa etapa falha, a memória está disponível apenas
imediatamente após o aprendizado (como quando se estuda para
uma prova no último minuto). A
recuperação é o processo que dá
acesso à memória consolidada.
Os autores da pesquisa pediram
a um grupo de 36 pessoas que memorizassem uma lista de 60 palavras que eram apresentadas na tela de um computador, quatro segundos cada palavra.
Os participantes, então, eram
submetidos a dois tipos de testes,
em dois tempos, imediatamente
após a visualização da lista e um
dia depois. Um deles pedia que as
pessoas escrevessem todas as palavras da lista que elas conseguissem se lembrar. Esse teste serviu
para testar a capacidade de recordar, de evocar a memória, ou seja,
testou a memória de longo prazo.
O outro teste pediu que as pessoas identificassem, entre 120 palavras, quais as que estavam presentes na lista anterior. O objetivo
desse outro teste foi estudar a chamada memória de reconhecimento (veja quadro ao lado).
Os autores da pesquisa forneceram tabletes contendo 25 mg de
cortisona em diferentes períodos
do experimento: a) uma hora antes da memorização da lista de palavras, b) uma hora depois da memorização da lista e c) vinte e quatro horas após a memorização da
lista, uma hora antes de fazer o
teste de evocação da memória.
Após ser ingerida, a cortisona é
transformada, no corpo, em cortisol.
O objetivo de administrar a cortisona uma hora antes e imediatamente após a apresentação da lista foi verificar se o corticóide pode
influenciar os processos de aquisição e consolidação da memória.
O que eles observaram foi que a
cortisona não afetou a capacidade
de aquisição, evocação e reconhecimento, nos testes feitos logo
após a memorização da lista.
Segundo Dominique Quervain,
um dos autores do estudo, o cortisol não provocou nenhum tipo de
sintoma logo após ser ingerido.
Porém, ele prejudicou a memória
de uma a quatro horas após ter sido ingerido.
Quando administrado antes do
teste feito 24 horas após a memorização das palavras, o cortisol
não afetou a capacidade de reconhecimento, mas prejudicou a capacidade de evocação.
Os voluntários que ingeriram
cortisona conseguiram se recordar de um número significativamente menor de palavras do que
aqueles que, ao invés de tabletes
de cortisona, receberam placebo
(substância que não causa nenhum efeito no organismo). Tiveram a chamada memória de longo prazo prejudicada.
A quantidade de cortisona nos
tabletes foi calculada para resultar
em níveis de cortisol equivalentes
aos níveis apresentados naturalmente no sangue de quem sofre
uma situação de estresse agudo.
Os autores concluíram que o
cortisol afeta a capacidade de
acessar a memória de longo prazo, sem afetar outras funções intelectuais ou de associação.
Quervain comparou os resultados com o que acontece quando
alguém faz uma prova e por estar
muito nervoso tem problemas de
recordar o que aprendeu. Quando a pessoa relaxa, os níveis hormonais voltam ao normal, e ela,
de repente, se lembra do que, no
exame, não foi capaz de recordar.
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