|
Próximo Texto | Índice
ARQUEOLOGIA
Bombardeio pode danificar ou até arruinar os mais antigos vestígios de civilização, diz cientista americano
Guerra ameaça destruir sítios históricos
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
As bombas e os soldados da
aliança encabeçada por George
W. Bush correm o risco de pôr
abaixo muito mais do que o regime e o poderio militar de Saddam
Hussein, ou as casas de civis iraquianos. A coalizão anglo-americana pode devastar 5.000 anos de
história e danificar os mais antigos vestígios da civilização.
"O número de sítios arqueológicos no Iraque é quase impossível
de estimar", afirma o arqueólogo
norte-americano McGuire Gibson, da Universidade de Chicago.
"O Departamento de Antiguidades do governo iraquiano tem em
seus registros cerca de 10 mil sítios, mas eles correspondem apenas aos que já foram escavados
até hoje, e só 15% do território do
país teve algum tipo de recenseamento arqueológico", diz.
"O Instituto Arqueológico da
América e a nossa associação levaram ao Pentágono e ao Departamento de Defesa informações
sobre mais de 4.000 sítios, não para ajudar a encontrar alvos, mas
para evitá-los", diz Gibson.
A riqueza da região, porém, não
se resume ao mero volume de registros arqueológicos. O atual Iraque é praticamente sinônimo da
antiga Mesopotâmia, a "região
entre os rios" (o Tigre e o Eufrates) que testemunhou a passagem
de sumérios, acadianos, assírios,
babilônios, persas e os gregos de
Alexandre, como um dos principais eixos do mundo antigo.
Entre os monumentos no território do Iraque estão a lendária
Ur (onde o patriarca Abraão, ancestral mítico dos judeus, teria
nascido, por volta de 1700 a.C.), a
capital assíria, Nínive, cujos soberanos destruíram o reino de Israel
em 722 a.C., e a Babilônia de Nabucodonosor, que derrotou os judeus e os levou ao exílio.
Talvez ainda mais importantes
sejam registros que documentam
o aparecimento de todas as características que costumam ser associadas a uma civilização. Cultivo
de cereais e domesticação de animais (há 9-10 mil anos), grandes
obras públicas para irrigar as
plantações, governo centralizado,
templos e escrita (há 5.000 anos),
tudo isso nasceu e floresceu de
forma independente no que hoje
é conhecido como Iraque.
É para tentar minimizar os danos a esse imenso patrimônio que
Gibson, presidente da Associação
Americana para Pesquisa em
Bagdá, decidiu lançar seu apelo
na mais prestigiosa revista científica norte-americana, a "Science"
(www.sciencemag.org).
O grande problema são as consequências indiretas da guerra,
como aconteceu na do Golfo, em
1991: uma onda de pobreza que levou os iraquianos a dilapidarem
seu patrimônio arqueológico, antes mantido zelosamente, para viver do comércio ilegal de artefatos. "Um colecionador de Nova
York diz que esta é a era de ouro
desse ramo", alerta Gibson.
Próximo Texto: Columbia: Nasa encontra gravador de dados do ônibus espacial desintegrado Índice
|