São Paulo, Domingo, 21 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTURO
Universidade dos EUA desenvolve ambiente virtual em que cirurgião opera como se estivesse dentro do paciente
Homem-bisturi

Divulgação
Operação virtual, desenvolvida pela Universidade de Washington, em que cirurgião atua como se estivesse no interior do corpo do paciente


MARCELO FERRONI
da Reportagem Local

Um médico se prepara para iniciar uma cirurgia microscópica em um paciente. A incisão é feita, os instrumentos são inseridos por sua equipe, mas o cirurgião, de capacete, entra em uma sala escura.
E é dessa sala que a cirurgia é realizada. O médico passa a ver o interior do paciente em realidade virtual e realiza a operação como se estivesse entre seus órgãos.
Suas mãos se transformam nos próprios instrumentos, como garras ou pinças, e seus movimentos, na sala escura, são transmitidos aos aparelhos que estão realmente em contato com o paciente.
A operação virtual vem sendo desenvolvida desde o início de 1998 por Peter Oppenheimer e Suzanne Weghorst, da Universidade de Washington, nos EUA.
No projeto da operação virtual, os cientistas propõem que o programa "dê ao cirurgião a sensação de estar dentro do corpo do paciente e encolhido à escala do órgão a ser operado".
"Nós pretendemos criar um programa em que os movimentos da cabeça e das mãos do cirurgião controlem os movimentos de câmeras e instrumentos operados por um robô", disse Oppenheimer, em entrevista por e-mail à Folha.
"Dessa forma, manobras delicadas podem ser realizadas com amplos movimentos das mãos, de forma que o procedimento seja mais seguro e preciso."
Atualmente, foi desenvolvida apenas uma simulação em realidade virtual para demonstrar, testar e desenvolver os conceitos.
A partir de um capacete especial e de sensores de posição acoplados à cabeça e às mãos, o cirurgião, com o equivalente a apenas 20 centímetros de altura, vê o que seria a cavidade abdominal de um paciente.
A simulação foi criada para que o médico inserisse um cateter (instrumento tubular, que é introduzido no corpo com o objetivo de retirar líquidos ou de inserir medicamentos) em uma região da vesícula biliar.
O modelo foi gerado a partir de imagens de vídeo obtidas de uma cirurgia real, realizada anteriormente.
"Depois que os testes forem encerrados, esperamos conectar os movimentos do médico às câmeras e aos instrumentos." As simulações, no entanto, ainda deverão continuar neste ano.

Prática cirúrgica
O sistema foi desenvolvido para que haja mais precisão nas cirurgias microscópicas, chamadas laparoscópicas.
A laparoscopia é realizada a partir de uma incisão de cerca de 1 cm na parte inferior do umbigo, pela qual se insere um endoscópio, instrumento com fibra ótica e lentes que permitem a visualização do abdômen em uma tela de vídeo.
São realizadas outras incisões de cerca de 0,5 cm para a introdução de instrumentos cirúrgicos. Em seguida, injeta-se ar na cavidade abdominal do paciente para que haja espaço para a operação.
Outros centros de pesquisa também desenvolvem sistemas de interação entre cirurgiões e aparelhos- robôs em operações consideradas delicadas.
No Canadá, a pesquisa de cirurgias em ambientes virtuais é desenvolvida por Christine MacKenzie, da Universidade Simon Fraser, em Burnaby, na Província da Colúmbia Britânica.
MacKenzie desenvolve mecanismos de comando para que cirurgiões interajam com precisão em ambientes virtuais.
Na área de desenvolvimento dos braços robóticos, a empresa Computer Motion, localizada em Goleta, na Califórnia, desenvolveu o robô Zeus, composto por três braços, que realiza microcirurgias com assistência de um cirurgião.
O objetivo do mecanismo é melhorar a precisão cirúrgica e garantir uma maior segurança ao compensar movimentos mais bruscos do médico.
O cirurgião vê imagens dos órgãos internos do paciente por meio de uma tela de vídeo e coloca três braços robóticos em operação ao movimentar um console.
Um dado curioso: o robô Zeus está na edição de 1999 do "Guinness", o livro dos recordes, como a aplicação cirúrgica mais sofisticada do mundo.


Texto Anterior: Periscópio - José Reis: Pesquisando a causa da miopia
Próximo Texto: Micro/macro - Marcelo Gleiser: Do balão de são João até a conquista do espaço
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.