São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2006

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DE VOLTA À TERRA

Presidente diz que missão espacial de Marcos Pontes mostra que Brasil caminha para "ser dono do próprio nariz"


Lula dá recepção de herói a astronauta

FERNANDO ITOKAZU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao receber em tom festivo e ufanista o primeiro astronauta brasileiro no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que teria vontade de estar no lugar do tenente-coronel Marcos Pontes, que viajou à ISS (Estação Espacial Internacional) numa nave russa. E defendeu a viagem de US$ 10 milhões.
"Sei que eu não estou com preparo físico adequado como você. Eu não tenho coragem de mergulhar cinco metros dentro do mar, mas eu teria coragem de ir numa nave espacial", discursou Lula na cerimônia, durante a qual o astronauta foi condecorado.
Antes do evento, houve um encontro reservado do presidente com Pontes. "Depois das coisas que você me contou, um dia, quem sabe quando estiverem levando as pessoas da terceira idade, eu me candidate para uma viagem dessas", disse Lula.
Marcos Pontes disse que a missão foi um sucesso completo, "em todos os sentidos", e ressaltou a participação das crianças -uma citação ao criticado experimento de germinação de feijões em microgravidade de alunos de uma escola paulista.
"A parte científica pode ser mensurada, mas o envolvimento das crianças não dá para medir", afirmou Pontes. A AEB (Agência Espacial Brasileira) apostou que a viagem à Estação Espacial Internacional poderia servir de inspiração para carreiras acadêmicas, enquanto vários membros da comunidade científica a consideraram dinheiro mal-empregado.
Questionado sobre como pretende usar sua fama para aumentar a curiosidade das crianças pela ciência e tecnologia, o astronauta disse ainda não ter um plano específico, mas pretende ter um contato direto com crianças.

Sem teto
O governo planejou interceptar o avião que transportou o astronauta a Brasília por dois caças da FAB (Força Aérea Brasileira). As aeronaves sobrevoariam a Esplanada dos Ministérios, mas o tempo estava muito fechado.
A fachada do Ministério da Defesa foi coberta com um grande cartaz com a foto do astronauta. O Palácio do Planalto convidou cinco escolas para acompanhar a cerimônia. As crianças agitavam bandeirinhas do Brasil.
O tom dos discursos foi de resposta aos críticos da política espacial. Para Lula, a crítica faz parte da convivência democrática, mas não são muitos os países que mandaram homem ao espaço. "Foi mais um sinal de que o Brasil caminha a passos largos para ser dono do seu nariz."
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, disse que a missão divulgou a ciência. "O custo ficou pequeno pelo resultado."
Pontes também respondeu às insinuações de que teria ido "de carona" na nave russa Soyuz e que os experimentos realizados não eram relevantes.
"Outros astronautas viajaram na mesma condição que a minha", disse ele, que citou o americano Jeffrey Williams, o qual viajou com ele, já que o ônibus espacial não está operando.
"A denominação que o pessoal dá para esse tipo de vôo não é importante. Importante é que seja um vôo em que nós vamos como profissionais, realizar uma missão pelo nosso país. Acho no mínimo deselegante qualquer comentário sobre os experimentos que eles desenvolveram, principalmente vindo da própria comunidade científica", afirmou Pontes.


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