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BIOLOGIA
Estudo mostra que diferenças genéticas entre variedades caninas são mais acentuadas que entre grupos humanos
Genoma animal denuncia a raça dos cães
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A raça de um cachorro não está
apenas no focinho e no resto do
corpo. Pesquisadores descobriram agora que o material genético
dos cães reflete não só a sua espécie, mas também a própria raça
do bicho.
Ainda mais que o futebol, a genética é uma caixinha de surpresas. Ao estudar o material genético de 414 cães de 85 raças, os cientistas descobriram que um pequinês está mais próximo do lobo, o
ancestral comum da espécie, do
que de um pastor alemão.
Essa é apenas uma curiosidade
da descoberta. "O primeiro grande achado é que as diferentes raças são bem distintas geneticamente. Os cachorros de uma raça
são muito mais semelhantes uns
com os outros do que com cães de
raças diferentes", diz Leonid
Kruglyak, pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes, em
Seattle, noroeste dos EUA.
As diferenças entre as raças responderam por cerca de 30% da
variação genética.
Kruglyak e mais nove colegas de
outras instituições publicaram
seus achados na revista científica
americana "Science" de hoje
(www.sciencemag.org).
Isso significa que os cientistas
podem agora identificar a raça de
um cão ao introduzir seus dados
genéticos no computador.
Foi uma descoberta surpreendente, segundo Kruglyak, pois a
maioria das raças só foi definida
bem recentemente. Só a partir do
século 19, na Europa, que os clubes de fãs de cães passaram a definir os padrões das raças.
Apesar de recentes, as diferenças entre as raças caninas são bem
mais marcantes do que o que se
conhece entre seres humanos de
diferentes continentes.
Em parte os achados confirmaram o que se sabia sobre os cães.
Geneticamente, eles puderam ser
classificados em categorias semelhantes às conhecidas -basicamente, cães de guarda, de caça e
de pastoreio.
Mas alguns cães que aparentemente tinham uma linhagem antiga (descendendo de cães do antigo Egito, por exemplo), se revelaram "invenções" modernas, recriadas a partir do século 19.
Em compensação, várias raças
asiáticas mostraram estar mais
próximas do ancestral lobo cinzento do que as raças ocidentais.
Com isso, mesmo o pequeno pequinês parece estar mais próximo
do lobo do que o gigante Irish
Wolfhound, o cão lobeiro irlandês criado para caçar o ancestral.
O estudo tem um interesse prático grande, tanto para cães como
para os seres humanos. A comparação entre os materiais genéticos
de raças próximas permitirá localizar com mais facilidade certas
doenças genéticas, como câncer,
problemas cardiovasculares ou
epilepsia.
E como os genes dessas doenças
têm suas versões humanas, os
achados poderão ajudar no diagnóstico de males hereditários
também no homem.
Existem mais de 400 raças de
cães no mundo, das quais o Kennel Club Americano, que colaborou com a pesquisa, reconhece
152. Há também 350 distúrbios
hereditários reconhecidos em
cães de raça.
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