São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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BIOLOGIA

Estudo mostra que diferenças genéticas entre variedades caninas são mais acentuadas que entre grupos humanos

Genoma animal denuncia a raça dos cães

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A raça de um cachorro não está apenas no focinho e no resto do corpo. Pesquisadores descobriram agora que o material genético dos cães reflete não só a sua espécie, mas também a própria raça do bicho.
Ainda mais que o futebol, a genética é uma caixinha de surpresas. Ao estudar o material genético de 414 cães de 85 raças, os cientistas descobriram que um pequinês está mais próximo do lobo, o ancestral comum da espécie, do que de um pastor alemão.
Essa é apenas uma curiosidade da descoberta. "O primeiro grande achado é que as diferentes raças são bem distintas geneticamente. Os cachorros de uma raça são muito mais semelhantes uns com os outros do que com cães de raças diferentes", diz Leonid Kruglyak, pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes, em Seattle, noroeste dos EUA.
As diferenças entre as raças responderam por cerca de 30% da variação genética.
Kruglyak e mais nove colegas de outras instituições publicaram seus achados na revista científica americana "Science" de hoje (www.sciencemag.org).
Isso significa que os cientistas podem agora identificar a raça de um cão ao introduzir seus dados genéticos no computador.
Foi uma descoberta surpreendente, segundo Kruglyak, pois a maioria das raças só foi definida bem recentemente. Só a partir do século 19, na Europa, que os clubes de fãs de cães passaram a definir os padrões das raças.
Apesar de recentes, as diferenças entre as raças caninas são bem mais marcantes do que o que se conhece entre seres humanos de diferentes continentes.
Em parte os achados confirmaram o que se sabia sobre os cães. Geneticamente, eles puderam ser classificados em categorias semelhantes às conhecidas -basicamente, cães de guarda, de caça e de pastoreio.
Mas alguns cães que aparentemente tinham uma linhagem antiga (descendendo de cães do antigo Egito, por exemplo), se revelaram "invenções" modernas, recriadas a partir do século 19.
Em compensação, várias raças asiáticas mostraram estar mais próximas do ancestral lobo cinzento do que as raças ocidentais. Com isso, mesmo o pequeno pequinês parece estar mais próximo do lobo do que o gigante Irish Wolfhound, o cão lobeiro irlandês criado para caçar o ancestral.
O estudo tem um interesse prático grande, tanto para cães como para os seres humanos. A comparação entre os materiais genéticos de raças próximas permitirá localizar com mais facilidade certas doenças genéticas, como câncer, problemas cardiovasculares ou epilepsia.
E como os genes dessas doenças têm suas versões humanas, os achados poderão ajudar no diagnóstico de males hereditários também no homem.
Existem mais de 400 raças de cães no mundo, das quais o Kennel Club Americano, que colaborou com a pesquisa, reconhece 152. Há também 350 distúrbios hereditários reconhecidos em cães de raça.


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