São Paulo, sábado, 21 de maio de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

HANS KEIRSTEAD NEUROCIENTISTA

Terapia com células-tronco ainda não é uma realidade

Ensaio clínico foi aprovado nos EUA; dois pacientes já receberam as células, mas os efeitos em humanos ainda precisam ser bem estudados

Rafael Andrade/Folhapress
Hans Keirstead, criador do tratamento, no Rio

CAROLINA MATOS
DO RIO

A impossibilidade de andar é o menor dos males para quem tem lesão na medula espinhal, diz o neurocientista Hans Keirstead, 44. "Existem muitos outros problemas, como impotência sexual. É doloroso".
Foi em busca de um tratamento para reverter danos medulares que o pesquisador chegou a uma alternativa que define como "revolucionária": a terapia utilizando células-tronco embrionárias.
O tratamento foi o primeiro a conseguir, em 2010, aprovação para ensaios clínicos nos EUA pelo FDA, órgão que regula a liberação de medicamentos naquele país.
Mas a terapia, destaca Keirstead, ainda está em fase de pesquisa e deve levar anos até virar realidade.

 

Folha - Cientistas e médicos alimentam nos pacientes com lesão medular falsas expectativas em relação à terapia com células-tronco?
Hans Keirstead -
O campo das células-tronco tem produzido mais falsas expectativas do que qualquer outro tratamento. É algo novo e todos estão extraordinariamente empolgados.
As células-tronco são o primeiro material que médicos e cientistas encontraram que tem o potencial de tratar toda e qualquer doença do corpo humano. As pessoas são feitas de células-tronco. Então, seguramente, sabemos que esse material pode produzir qualquer célula.
O problema é que existe muita esperança e muito pouco conhecimento sobre como transformar a descoberta em um possível tratamento.
O ensaio clínico que estamos fazendo é o início para vermos as aplicações dessa tecnologia. A próxima década vai ser muito importante.

Como foi o processo de levar os resultados de sua pesquisa com ratos ao ambiente clínico, com aprovação do FDA?
Como eu queria produzir um tratamento para humanos, usei células-tronco humanas. E de todos os tipos de células-tronco, apenas um ""o embrionário"" tem a habilidade de gerar uma grande quantidades de tecido.
Então, utilizamos células-tronco embrionárias humanas. E, nos testes, quando implantamos essas células em ratos com paralisia, mostramos que os animais recuperaram a capacidade de andar.
Foi a primeira vez que um material com alto grau de pureza foi utilizado e isso foi muito importantes para obter a aprovação do FDA.
A Geron [empresa farmacêutica] teve papel fundamental nesse processo, pois patrocinou toda a pesquisa e, agora, está trabalhando, em parceria conosco, na fase de ensaios clínicos.

Em que os estudos clínicos que estão sendo feitos podem resultar no futuro?
Nos próximos anos, veremos métodos para fazer todos os tipos de células para as várias partes do corpo.
E vejo duas aplicações para isso. Uma é a reposição de células que tenham sido perdidas. A outra é oferecer ferramentas para descobrir tratamentos de doenças ou desenvolver remédios com menos risco e menor custo.
A indústria de células-tronco oferece a possibilidade de pesquisar drogas primeiro em laboratório, em tecido humano, antes de testar em pacientes. É mais barato, rápido e menos arriscado.

Que tipo de risco os estudos com células-tronco indicam? O pior que pode acontecer é a terapia não fazer efeito ou pode trazer danos ao paciente?
Ambos. Uma vez aplicada no corpo humano, a célula-tronco não pode ser removida, pois é um tecido biológico vivo. É diferente de você tomar um medicamento que, se provoca efeitos colaterais, você interrompe o uso.
Com tecidos muito jovens, há preocupações com eventuais tumores e dor, pois podem crescer fibras nesse tecido. Fizemos tudo o que pudemos imaginar para reduzir esses riscos, mas pesquisamos em ratos. Humanos são muito mais complexos.

Como o senhor vê o debate ético sobre o uso de células-tronco embrionárias?
O debate existe e, nos EUA, durante o governo Bush, foi proibido o uso de recursos públicos para pesquisas com células-tronco.
Isso mudou no governo Obama. Mas muitas das críticas ao uso de células-tronco embrionárias surgem por desinformação.


Texto Anterior: FOLHA.com
Próximo Texto: Raio-X: Hans Keirstead
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.