São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

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Grupo acha 1ª vítima de arma de fogo da América

Crânio de homem encontrado em cemitério inca no Peru tem marcas de bala

Análises forenses mostram que o único disparo foi feito por um mosquete espanhol, a 30 m de distância, durante batalha na década de 1530

JOHN NOBLE WILFORD
DO "NEW YORK TIMES"

Arqueólogos anunciaram ter encontrado num cemitério inca no Peru o que eles dizem ser o primeiro caso de morte por arma de fogo registrado no Novo Mundo: um crânio com dois buracos de bala na cabeça.
Após exames forenses, técnicos da Universidade de New Haven, em Connecticut (EUA) atestaram a morte violenta. Apesar das duas marcas, as análises mostraram que o índio foi morto por uma única bala.
O projétil entrou na cabeça pela parte de trás e saiu pela frente, através do rosto. O que provavelmente indica, segundo os cientistas, que o homem assassinado estava correndo do seu agressor.
As marcas tem menos de 2,5 cm de diâmetro e continham, nas suas extremidades, resquícios sutis de ferro. Os sinais de violência combinam com as marcas deixadas pelas armas espanholas usadas na época. O tiro provavelmente saiu de um mosquete moderno para aqueles tempos, segundo os historiadores militares. O disparo foi dado a 30 metros de distância, aproximadamente.

Batalha final
De acordo com os pesquisadores forenses, todas as hipóteses prováveis foram testadas. "Tentamos descartar todas as outras causas possíveis do buraco -uma pedra atirada de um estilingue, uma lança ou uma machadinha", disse o legista Albert Harper, da Universidade de Connecticut.
Pelo menos 35 esqueletos escavados pela equipe de pesquisa no cemitério de Puruchuco têm sinais de violência, segundo o arqueólogo que chefiou as escavações, Guillermo Cock. "Alguns têm costelas quebradas por instrumentos pesados, outros braços e pernas quebrados", explica.
Segundo Cock, além dos tiros, os incas e seus aliados foram mortos na luta corpo a corpo ou também pisoteados pelos cavalos espanhóis. "Essa também era uma arma nova para eles", lembra o pesquisador. Apenas um crânio foi achado com marca de tiro.
Outros artefatos coletados na região das escavações atestam que ali, muito provavelmente, ocorreu uma batalha com muitos combates entre os invasores e os indígenas, que tentavam defender suas terras. Crônicas espanholas costumam descrever uma batalha de campo ocorrida nos arredores da cidade de Lima em 1536. As datações confirmam que os artefatos encontrados no local são do início do século 16.
O esqueleto indígena baleado chamou logo a atenção pela forma com que fora enterrado. Parece que o corpo foi sepultado rapidamente, explica Cock. Segundo ele, os rituais incaicos, de colocar o corpo cruzado voltado para o norte, não foram respeitados neste caso.
O trabalho de Cock foi financiado pela National Geographic Society. O canal de televisão do grupo apresentará um programa sobre a descoberta na próxima terça-feira.


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