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Reunião baleeira começa sem seu chefe
Diplomata autor de proposta que pode reabrir caça não deve ir encontro em Marrocos no qual ela será votada
Cristián Maquieira
alegou razões de saúde,
mas falta se deveu à
pressão de seu país, o
conservacionista Chile
REINALDO JOSÉ LOPES
DE SÃO PAULO
A reunião anual da CIB
(Comissão Internacional da
Baleia) começa hoje com um
desfalque crucial.
Aos debates, que acontecem na cidade marroquina
de Agadir, não deve comparecer o diplomata chileno
Cristián Maquieira, presidente da comissão.
O chileno é coautor da
principal proposta a ser discutida pela CIB neste ano,
uma tentativa de destravar o
cabo-de-guerra de décadas
entre nações conservacionistas, que não abrem mão de
uma moratória à caça dos
mamíferos marinhos, e países baleeiros, que desafiam a
proibição da captura.
O principal deles é o Japão,
que alega promover apenas a
caça "científica", embora a
carne dos cetáceos mortos
acabe sendo comercializada.
A proposta encabeçada
por Maquieira e seu vice, Anthony Liverpool, de Antígua
e Barbuda, estabelece cotas
mais controladas de captura
comercial ao longo de dez
anos, o que salvaria a vida de
milhares de baleias. Por ano,
a captura cairia de quase
2.000 cetáceos para cerca de
1.800 no planeta e para 1.600
após cinco anos.
A dupla também sugere
estabelecer mecanismos de
transparência, como o monitoramento internacional dos
barcos baleeiros e o rastreamento dos cetáceos capturados com a ajuda de dados de
DNA. Após dez anos, a liberação da caça comercial seria
rediscutida pela CIB.
O problema é que "a proposta deles conseguiu não
agradar a ninguém", avalia a
bióloga brasileira Márcia Engel, do Instituto Baleia Jubarte, que acompanha as discussões em Agadir.
Enquanto os países baleeiros acham as cotas restritivas
demais, os conservacionistas
criticam a permissão de capturar animais no santuário
do oceano Austral, na Antártida. "Não vejo perspectiva
de que a discussão avance no
momento", diz Engel.
Embora Maquieira tenha
alegado razões de saúde para
não ir ao encontro, a Folha
apurou que o próprio governo do Chile, notório conservacionista, teria orientado o
diplomata a ficar em casa. A
reportagem procurou a presidência da CIB para comentar
a ausência de Maquieira,
mas não obteve resposta.
SUSTENTÁVEL?
Do ponto de vista técnico,
a proposta de caça controlada não é ruim, afirma o biólogo Alexandre Zerbini, membro do comitê científico da
CIB. "A questão é que a informação disponível para cada
espécie e população varia.
Alguns dados são mais confiáveis do que outros."
Só o monitoramento de
longo prazo das populações
de baleias é capaz de dizer se
certas cotas de captura são
de fato sustentáveis.
"Os países que são contra
a proposta argumentam que
o manejo não funcionou no
passado. Quando se tentou
fazer isso, as populações declinaram. E eles temem o
efeito que essas cotas podem
ter sobre as populações se as
permissões de captura forem
consideradas permanentes",
explica Zerbini.
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