São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2010

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Reunião baleeira começa sem seu chefe

Diplomata autor de proposta que pode reabrir caça não deve ir encontro em Marrocos no qual ela será votada

Cristián Maquieira alegou razões de saúde, mas falta se deveu à pressão de seu país, o conservacionista Chile

REINALDO JOSÉ LOPES
DE SÃO PAULO

A reunião anual da CIB (Comissão Internacional da Baleia) começa hoje com um desfalque crucial.
Aos debates, que acontecem na cidade marroquina de Agadir, não deve comparecer o diplomata chileno Cristián Maquieira, presidente da comissão.
O chileno é coautor da principal proposta a ser discutida pela CIB neste ano, uma tentativa de destravar o cabo-de-guerra de décadas entre nações conservacionistas, que não abrem mão de uma moratória à caça dos mamíferos marinhos, e países baleeiros, que desafiam a proibição da captura.
O principal deles é o Japão, que alega promover apenas a caça "científica", embora a carne dos cetáceos mortos acabe sendo comercializada.
A proposta encabeçada por Maquieira e seu vice, Anthony Liverpool, de Antígua e Barbuda, estabelece cotas mais controladas de captura comercial ao longo de dez anos, o que salvaria a vida de milhares de baleias. Por ano, a captura cairia de quase 2.000 cetáceos para cerca de 1.800 no planeta e para 1.600 após cinco anos.
A dupla também sugere estabelecer mecanismos de transparência, como o monitoramento internacional dos barcos baleeiros e o rastreamento dos cetáceos capturados com a ajuda de dados de DNA. Após dez anos, a liberação da caça comercial seria rediscutida pela CIB.
O problema é que "a proposta deles conseguiu não agradar a ninguém", avalia a bióloga brasileira Márcia Engel, do Instituto Baleia Jubarte, que acompanha as discussões em Agadir.
Enquanto os países baleeiros acham as cotas restritivas demais, os conservacionistas criticam a permissão de capturar animais no santuário do oceano Austral, na Antártida. "Não vejo perspectiva de que a discussão avance no momento", diz Engel.
Embora Maquieira tenha alegado razões de saúde para não ir ao encontro, a Folha apurou que o próprio governo do Chile, notório conservacionista, teria orientado o diplomata a ficar em casa. A reportagem procurou a presidência da CIB para comentar a ausência de Maquieira, mas não obteve resposta.

SUSTENTÁVEL?
Do ponto de vista técnico, a proposta de caça controlada não é ruim, afirma o biólogo Alexandre Zerbini, membro do comitê científico da CIB. "A questão é que a informação disponível para cada espécie e população varia. Alguns dados são mais confiáveis do que outros."
Só o monitoramento de longo prazo das populações de baleias é capaz de dizer se certas cotas de captura são de fato sustentáveis.
"Os países que são contra a proposta argumentam que o manejo não funcionou no passado. Quando se tentou fazer isso, as populações declinaram. E eles temem o efeito que essas cotas podem ter sobre as populações se as permissões de captura forem consideradas permanentes", explica Zerbini.


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