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ASTRONÁUTICA
Estudo encomendado por investigadores do Columbia diz que ônibus espaciais não resistirão mais 20 anos
Relatório prevê mais acidentes com naves
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo produzido por um
dos maiores grupos de especialistas da indústria aeroespacial americana, a Rand Corporation,
aponta que os ônibus espaciais
provavelmente não vão sobreviver mais 20 anos, como a Nasa
quer, e outros acidentes fatais devem ocorrer nesse período.
A análise, feita a pedido da comissão independente que investiga a destruição do ônibus espacial
Columbia, levanta ainda mais dúvidas sobre o futuro do programa
espacial americano, que começa
agora a trabalhar por uma via de
acesso alternativa ao espaço, caso
não possa no futuro contar com
os veículos atuais.
O autor principal, Jean Gebman, apresentou informações
comparativas sobre os problemas
de manutenção de aeronaves ao
comitê liderado pelo almirante
Harold Gehman Jr. em 23 de abril,
com o objetivo de ajudar a estabelecer as recomendações para a retomada dos vôos, o que deve
acontecer entre o final deste ano e
o começo do próximo.
Gebman aponta que a agência
espacial dos EUA hoje não tem informações suficientes para garantir que os materiais que compõem
a estrutura das naves vão resistir
ao tempo sem aumentar os riscos
de um acidente, que hoje, com base no histórico (Challenger em
1986 e Columbia em 2003), já gira
em torno de elevados 2%.
Em termos de vida útil, a agência americana projetou suas naves
para a condução de cem vôos, e
cada uma delas fez apenas um
quarto disso. Mas as naves originalmente também tinham por
objetivo voar dezenas de vezes
por ano, o que totalizaria cem
missões em uns poucos anos
-não em quatro décadas, até
2020. O Columbia, perdido em 1º
de fevereiro, era o mais antigo dos
veículos, lançado em 1981.
"As naves foram inicialmente
projetadas para voar até cem vezes. Para a tecnologia aeronáutica
atual, esse número de decolagens
e pousos para uma aeronave convencional é uma insignificância
que nunca exigiria testes exaustivos de fadiga", diz Petrônio Noronha de Souza, do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais).
Apesar disso, ele ressalva que
esse senso de confiança é perigoso
em alguns elementos do ônibus
espacial. "Nas partes de material
composto [como a proteção térmica da nave para a reentrada],
tem-se o problema de operar na
fronteira do conhecimento: a tecnologia é usada por ser necessária, mas não está ainda madura."
Os ônibus espaciais são as únicas naves em atividade capazes de
dar continuidade à montagem da
ISS (Estação Espacial Internacional), o que deve obrigar a Nasa a
continuar com os vôos pelo menos até o final da década. Depois
disso, a agência pretende conceber uma alternativa para envio de
carga e tripulação ao espaço.
A nova estratégia envolve a
construção de um "espaçoplano
orbital", uma nave de pequeno
porte voltada para o transporte de
passageiros. Os planos originais
marcavam o primeiro vôo do novo veículo para 2010, mas a polêmica em torno dos ônibus espaciais depois da perda do Columbia fez com que a Nasa decidisse
adiantar a estréia em dois anos.
Clássico soviético
Segundo muitos especialistas, o
novo projeto da Nasa (que ainda
não tem forma definida e pode até
mesmo ser uma cápsula, apesar
do nome "espaçoplano") é a prova de que, ao menos com a atual
tecnologia, naves grandes, pesadas e reutilizáveis não são uma
boa opção. Ponto para os russos,
com o aparentemente simplista
design de sua cápsula Soyuz.
"O conceito da Soyuz é tão
avançado que a evolução dos vôos
espaciais leva à substituição dos
ônibus espaciais por algo como a
Soyuz", diz Vyacheslav Rodin,
engenheiro do IKI (Instituto de
Pesquisas Espaciais da Rússia).
"Vinte anos de vôos do ônibus espacial provaram que não há nada
para trazer do espaço, exceto as
pessoas", complementa, criticando a capacidade do ônibus espacial de trazer pesadas cargas de
volta à Terra em seu interior.
A Nasa terá ainda de responder
a outras críticas ao programa tripulado. Uma avaliação publicada
na semana passada pelo jornal
britânico "The Independent"
mostra que a agência tem astronautas demais, treinados a partir
de um número superestimado de
vôos. Metade da corporação da
agência espacial não chega a voar
e fica conduzindo trabalhos burocráticos em terra, para os quais
não precisariam do caro treinamento a que são submetidos.
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