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BIOTECNOLOGIA
Dados ajudarão melhoramento da planta
Brasileiros e franceses soletram 10% dos genes ativos da banana
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 10% dos genes ativos
da banana foram "soletrados" por
pesquisadores brasileiros e franceses, no primeiro passo para decifrar o DNA da planta. A informação deve ser de grande utilidade para os estudos de melhoramento genético da fruta, que anda
sofrendo um verdadeiro bombardeio de pragas agressivas (principalmente fungos) no mundo.
O trabalho, parceria entre a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a Universidade Católica de Brasília e o Cirad
(Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica
para o Desenvolvimento, na sigla
em francês), lançou ontem o DATAMusa, um banco de dados
com as descobertas já feitas nessa
primeira fase do trabalho. O
anúncio foi feito em Brasília pelo
presidente da Embrapa, Silvio
Crestana, e pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
"É o segundo maior banco de
dados do mundo sobre o genoma
da banana, e mostra que o Brasil é
um jogador de primeiro time nessa área", afirma o agrônomo Manoel Teixeira Souza Júnior, da
Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, que ajudou a coordenar a pesquisa. Os 5.000 genes
"soletrados" até agora, na verdade, não vieram diretamente do
genoma da planta, mas do chamado transcriptoma -os genes
realmente ativos, que chegam à
forma de mRNA, a molécula-irmã do DNA. O grupo também
identificou 113 promotores -trechos de DNA que regulam quando e como os genes são ativados.
"Nesse conjunto, já achamos diversos homólogos [formas semelhantes] de genes já descritos que
parecem ter relação com a resistência a nematóides [vermes parasitas], insetos e fungos", conta
Souza Júnior, cujo grupo tem interesse especial em criar bananeiras mais resistentes a esse trio de
inimigos. Também estão na lista
genes envolvidos com tolerância
ao calor, ao frio e à seca e outros
que poderiam alterar o metabolismo da planta para que ela produza frutos mais nutritivos.
Mestiça
Por uma série de razões, tais dados são cruciais para ajudar bananais em todo o mundo. O agrônomo explica que as bananas que
chegam à fruteira são, na verdade,
híbridos estéreis de duas espécies
diferentes, a Musa acuminata e a
M. balbisiana, apelidadas de A e
B. Para complicar ainda mais, elas
normalmente têm três conjuntos
de 11 cromossomos, as estruturas
enoveladas que abrigam o DNA.
"A banana-prata tem dois genomas A e um B, enquanto a banana-nanica tem três genomas A",
conta Souza Júnior.
Por isso, é praticamente impossível introduzir características de
interesse, como resistência a pragas, por exemplo, nessas variedades, que são as mais populares comercialmente. Elas são basicamente clones umas das outras
-razão pela qual pragas como a
sigatoka negra, um fungo, têm
causado tamanho estrago nas
plantações. Estima-se que entre
30% e 40% da plantação seja perdida no Brasil por causa de doenças. A preocupação chegou a tal
nível que, há poucos anos, alguns
pesquisadores chegaram a falar
no fim das variedades comerciais.
Segundo o agrônomo da Embrapa, os relatos sobre a extinção
da banana foram altamente exagerados. "Aquilo foi mais um grito de alerta, porque se temia que
outra praga fúngica perigosa, o
Fusarium raça 4, chegasse à América, o que tornaria comercialmente inviável o plantio da banana no continente", diz ele.
Com a informação genômica,
no entanto, os pesquisadores esperam ser capazes de introduzir
diretamente os genes responsáveis pela resistência a doenças ou
valor nutritivo, extraídos de variedades mais rústicas, diretamente no DNA das bananas comerciais. "Sem essa técnica, o
único jeito de conseguir variabilidade é induzindo mutações [com
radiação, por exemplo], e isso é
tiro no escuro", diz Souza Júnior.
Por outro lado, mesmo quando
o cruzamento tradicional é possível, a modificação nas características originais é tão grande que a
variedade se torna inviável comercialmente. "Não adianta ter
uma produtividade ótima e grande resistência se o sabor não é
bom", explica.
Intragenia
Por isso, a idéia é produzir variedades transgênicas, com modificações pontuais no DNA da
planta que evitem esse problema.
Aliás, o grupo deve trabalhar com
o conceito de "intragenia" -é
adicionado um gene da mesma
espécie à planta, para diminuir a
resistência aos transgênicos.
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